A filosofia é um exercício que fazemos quase sem pensar. Quando observamos os fatos do mundo e tentamos deles nos abstrair, para ver um sentido, estamos filosofando. Para a criança e o jovem, guardadas as diferenças de complexidade de raciocínio, é importante ensinar filosofia, para que aos poucos estruturem um pensamento organizado, investigativo, crítico sobre as coisas. 2005 foi o Ano Internacional da Física. Isto nos lembra as reflexões de Einstein, o mais famoso físico, que nos trouxe um questionamento filosófico central: ele mostrou que, ao tentarmos cronometrar um fato, o resultado dependerá de nossa posição em relação a este fato. Einstein mesmo reconheceria que sua descoberta da teoria da relatividade teve grande contribuição dos filósofos, que o despertaram para a questão epistemológica (do grego episteme, que significa conhecimento). Neste momento, resgatava-se a integridade do saber que, desde a física experimental, criada por Galileu Galilei, gerara uma grande ruptura entre a filosofia e a ciência. A contribuição da filosofia no dia-a-dia da vida. Uma criança ou jovem, ao refletir sobre o que acontece à sua volta, sobre o que sente, sobre como as pessoas agem, apropriando-se progressivamente da contribuição da filosofia, para este conhecimento, realiza um avanço em termos de raciocínio e de consciência sobre a vida e o mundo. Outro dia, a mãe de uma criança de 9 anos contava sobre uma pergunta de sua filha: "Mãe, que é mensalão?". A mãe explicou, de forma simples e direta: "é um pagamento que uma pessoa faz para que a outra pessoa vote no que ela deseja." Satisfeita por ter sido objetiva e rápida na resposta, assustou-se a mãe poucos minutos depois quando a menina respondeu: "Ah! Eu sei.. é como fazemos na escola... Queríamos que os outros votassem no mesmo nome que escolhemos para a nossa biblioteca para a nossa classe ganhar... E por isso pagamos a cada um que votasse em nosso nome com uma figurinha e um doce...". A partir daí, a mãe teve que entrar em uma discussão que, como inúmeras outras mães, nunca havia tido com sua filha: a questão da ética, a questão da liberdade do pensamento, a questão da luta honesta pelas verdades em que se acredita. Isto é filosofia. A Unesco destacou a importância do ensino da filosofia para crianças e, neste sentido, vale a pena ler a Declaração de Paris, documento organizado pela Unesco há 10 anos atrás. Declaração de Paris
A filosofia facilita também a que o jovem desenvolva a tolerância. Ele percebe que há várias formas de ver uma realidade, dependendo do ponto de partida. Mesmo assim, como a filosofia o exige no sentido da verdade, ele terminará exercitando a mente no sentido da abrangência, da diversidade, mesmo que conclua por algumas crenças que lhe pareçam mais interessantes e instigantes. Piaget define esta questão com clareza: "A filosofia, ao visar a totalidade do real, comporta necessariamente dois caracteres que constituem a sua originalidade própria: o primeiro é que ela não poderia dissociar as questões umas das outras, uma vez que o seu esforço específico consiste em atingir o todo; o segundo é que, tratando-se duma coordenação conjunta de actividades humanas, cada posição filosófica determina valorações e uma adesão, o que exclui a possibilidade de um acordo geral dos espíritos na medida em que os valores em questão permanecem irredutíveis." (J. Piaget, A Situação das Ciências do Homem no Sistema das Ciências.)
(Net Educação)
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