Filosofia

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"amor à sabedoria"

Poema sobre amizade

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.
Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.
Albert Einstein

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

A Condição Humana: Natureza x Cultura

por Marilena Chauí

O homem não nasce homem pois precisa da educação para se humanizar. Muitos são os exemplos dados por antropólogos e psicólogos a respeito de crianças que, ao crescerem longe do contato com seus semelhantes, permaneceram como se fossem animais.
Na Alemanha, no século passado, foi encontrado um rapaz que crescera absolutamente isolado de todos. Kaspar Hauser, como ficou conhecido, permaneceu escondido por razões não esclarecidas. Como ninguém o ensinara a falar, só se tornou propriamente humano quando sua educação teve início. Nessa ocasião ficou constatado que possuía inteligência excepcional, até então obscurecida pelo abandono a que fora relegado.
O caso da americana Helen Keller é similar, embora as circunstâncias sejam diferentes. Nascida cega, surda e muda, mesmo vivendo entre seus familiares, a menina permaneceu afastada do mundo humano até os sete anos de idade, quando a professora Anne Sullivan lhe tornou possível a compreensão dos símbolos, introduzindo-a no mundo propriamente humano.
Esses casos extremos servem para ilustrar o processo comum pelo qual cada criança recebe a tradição cultural, sempre mediada pelos outros homens, com os quais aprende os símbolos e torna-se capaz de agir e compreender a própria experiência.
A linguagem simbólica e o trabalho constituem, assim, os parâmetros mais importantes para distinguir o homem dos animais. O homem é transformador da natureza e o resultado dessa transformação se chama cultura. Mas para produzir cultura o homem precisa da linguagem simbólica. Os símbolos são invenções humanas por meio das quais o homem pode lidar abstratamente com o mundo que o cerca. Depois de criados, entretanto, eles devem ser aceitos por todo o grupo e se tornam a convenção que permite o diálogo e o entendimento do discurso do outro.
Os símbolos permitem o distanciamento do mundo concreto e a elaboração de idéias abstratas: com o signo “casa”, por exemplo, designamos não só determinada casa, como também qualquer casa. Além disso, com a linguagem simbólica o homem não está apenas presente no mundo, mas é capaz de representá-lo: isto é, o homem torna presente aquilo que está ausente. A linguagem introduz o homem no tempo, porque permite que ele relembre o passado e antecipe o futuro através do pensamento. Ao fazer uso da linguagem simbólica, o homem torna possível o desenvolvimento da técnica e do trabalho humano, enquanto forma sempre renovada de intervenção na natureza.
Recentemente, pesquisas realizadas no campo da etologia (estudo comparado do comportamento dos animais, buscando a regularidade desse comportamento) têm mostrado que alguns tipos de chimpanzés conseguem fazer utensílios, e criam complexas organizações sociais baseadas em formas elaboradas de comunicação. As conclusões dessas pesquisas tendem a atenuar a excessiva rigidez das antigas concepções sobre a distinção entre instinto e inteligência animal e humana.
É evidente que existem grandes diferenças entre os animais conforme seu lugar na escala zoológica: enquanto uma abelha constrói a colméia e prepara o mel segundo padrões rígidos típicos das ações instintivas, um mamífero, que é um animal superior, do ponto de vista da escala zoológica, é capaz de desenvolver outros comportamentos mais flexíveis, e portanto menos previsíveis. Diante de situações problemáticas, animais superiores podem encontrar soluções criativas porque fazem uso da inteligência. Um cachorro faz uso da inteligência quando aprende a obedecer ordens do seu dono ou quando, mobilizado pela fome, desenvolve a capacidade de se adaptar às novidades mediante recursos de improvisação.
O homem, por sua vez, tem instintos como o dos animais, mas possuindo consciência de si próprio, orienta, por exemplo, o controle da sexualidade e da agressividade, submetendo-se de início à normas e sanções da comunidade. O homem foi “expulso do paraíso” quando deixou de se instalar na natureza da mesma forma que os animais e as coisas.
Assim o comportamento humano passa a ser avaliado pela ética, pela estética, pela religião ou pelo mito. Isso significa que os atos referentes à vida humana são tidos como bons ou maus, belos ou não, e essa análise é válida para qualquer ação humana: andar, dormir, alimentar-se não são atividades puramente naturais, pois estão marcadas pelas soluções dadas pela cultura e, posteriormente, pela crítica que o homem faz à cultura.

A condição humana é de ambiguidade porque o homem é o que a tradição cultural quer que ele seja e também a constante tentativa de ruptura dessa tradição. Assim a sociedade humana surge porque o homem é capaz de criar interdições, isto é, proibições, normas que definem o que pode e o que não pode ser feito. No entanto, o homem é também um ser necessitado de transgressões, de desobediências que rejeitam fórmulas antigas e ultrapassadas para instalar novas normas, mais adequadas às necessidades humanas diante dos problemas colocados pela existência.

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