Filosofia

Filosofia
"amor à sabedoria"

Poema sobre amizade

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.
Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.
Albert Einstein

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Senso Comum e Conhecimento Científico

Vimos que o mito e a filosofia foram formas que o homem encontrou para enfocar, compreender e conhecer sua realidade. Isso ocorria à medida que ele procurava suprir suas necessidades, pois não há conhecimento que se realize fora da relação do homem com o mundo.
Sendo assim, qualquer tipo de conhecimento que o homem possui não é neutro ou desinteressado, mas construído sob uma perspectiva social, política e cultural e, portanto, histórica, ou seja, à medida que o homem se relaciona com os outros homens, ele adquire e constrói entendimentos sobre a realidade que o cerca. Neste processo de construção, o conhecimento que é produto de uma prática que se faz social e historicamente situada pode ser espontâneo ou de senso comum, cientifico e também filosófico.

Senso Comum

No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e atuar sobre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dá azar; se quebrarem um espelho, sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “embatuma”, sabem também que a determinados pratos, feitos em banho-maria, devem acrescentar uma gotas de vinagre ou de limão, para que a vasilha de alumínio não fique escura. Como aprenderam essas informações? Elas foram sendo passadas de geração a geração. Elas não só foram assimiladas, mas também transformadas, contribuindo assim para a compreensão da realidade.
Assim, se o conhecimento é produto de uma pratica que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento social, para o trabalho, para os fenômenos da natureza, etc. passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experimentamos. Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais questionamos: tornamo-nos “conformistas de algum conformismo”.
São inúmeros os exemplos presentes na vida social, construídos pelo “ouvi dizer”, que formam uma visão de mundo fragmentada e assistemática. Mesmo assim, é uma forma usada pelo homem para tentar resolver seus problemas da vida cotidiana. Isso tudo é denominado de senso comum ou conhecimento espontâneo.
Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência cotidiana, sem se preocupar com o rigor que a experiência cientifica exige e sem questionar os problemas colocados justamente pelo cotidiano. Portanto, é também um saber ingênuo, uma vez que não possui uma postura crítica.
“Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com método, com critica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com esforço, usando um método, uma critica mais pensada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos”.
Lara, Tiago Adão. Caminhos da razão no ocidente: a filosofia ocidental, do renascimento aos nossos dias. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
Porém, é importante destacar que o senso comum é uma forma válida de conhecimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar suas necessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos dos psicólogos e pedagogos são mais bem educados.
O senso comum é ainda subjetivo ao permitir a expressão de sentimentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta. Por exemplo:
a. se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor. Neste caso, a antipatia por esta determinada pessoa nos impede de reconhecer a sua capacidade;
b. Os hindus consideram a vaca um animal sagrado, enquanto nós, ocidentais, concebemos este animal apenas como um fornecedor de carne, leite, etc. Por essa razão os consideramos ignorantes e ridículos,pois tendemos a julgar os povos que possuem uma cultura diferente da nossa a partir do nosso entendimento valorativo.
Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção critica e coerente, e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como a ciência e a filosofia.

Conhecimento científico


Na unidade anterior, estudamos que a preocupação dos pensadores da Antiguidade Grega era buscar, por meio do uso da razão, a superação do mito ou do saber comum. O avanço na produção do conhecimento conseguido por esses pensadores foi estabelecer vinculo entre ciência e filosofia, que perdurou até o inicio da Idade Moderna. A partir daí, as relações dos homens tornaram-se mais complexas, bem como toda a forma de produzir sua sobrevivência. Gradativamente, houve um avanço técnico e cientifico, como a utilização da pólvora, a invenção da imprensa, a Física de Newton, a Astronomia de Galileu, etc.
Foi no inicio do século XVII, quando o mundo europeu passava por profundas transformações, que o homem se tornou o centro da natureza (antropocentrismo). Acompanhando o movimento histórico, ele mudou toda a estrutura do pensamento e rompeu com as concepções de Aristóteles, ainda vigentes e defendidas pela igreja, segundo as quais tudo era hierarquizado e imóvel, desde as instituições até o planeta terra. O homem passou então, a ver a natureza como objeto de sua ação e de seu conhecimento, podendo nela interferir. Portanto, podia formular hipóteses e experimentá-las para verificar a sua veracidade, superando assim as explicações metafísicas e teológicas que até então predominavam. O mundo imóvel foi substituído por um universo aberto e infinito, ligado a uma unidade de leis. Era o nascimento da ciência enquanto um objeto específico de investigação, com um método próprio para controle de produção do conhecimento. Assim sendo, ciência e filosofia se separam.
Portanto, podemos afirmar que o conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade, pois tem apenas trezentos anos. Ele transformou-se numa pratica constante, procurando afastar crenças supersticiosas e ignorâncias, por meio de métodos rigorosos, para produzir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo que garanta prever acontecimentos e agir de forma mais segura.
Sendo assim o que diferencia o senso comum do conhecimento cientifico é o rigor. Enquanto o senso comum é acrítico, fragmentado, preso a preconceitos e a tradições conservadoras, a ciência preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que produzam teorias que revelem a verdade sobre a realidade, uma vez que a ciência produz o conhecimento a partir da razão.
“Assim, são tarefas básicas para se construir ciência:
definir os termos com precisão, para não deixar margem à ambigüidade: cada conceito deve ter um conteúdo especifico e delimitado; não pode variar durante a analise(...);
descrever e explicar com transparência, não incorrendo em complicações, ou seja, em linguagem hermética, dura, ininteligível(...);
distinguir com rigor facetas diversas, não emaranhar termos, clarear suposições possíveis, fugir à mistura de planos da realidade, não cair em confusão(...);
procurar classificações nítidas, bem sistemáticas de tal sorte que o objeto apareça recortado sem perder muito de sua riqueza;
impor certa ordem no tratamento do tema, de tal modo que seja claro o começo ou o ponto de partida(...)”

Demo, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1995. p. 35.

Desta forma, o cientista, para realizar uma pesquisa e torná-la cientifica, deve seguir determinados passos. Em primeiro lugar, o pesquisador deve estar motivado a resolver uma determinada situação-problema que, normalmente, é seguida por algumas hipóteses. Usando sua criatividade, o pesquisador deve observar os fatos, coletar os dados e então testar suas hipóteses que poderão se transformar em leis e posteriormente em teorias que possam explicar e prever fenômenos.
Porem é fundamental registrar que a ciência não é somente acumulação de verdades prontas e acabadas. Nesse caso, estaríamos refletindo sobre cientificismo e não ciência, mas tê-la como um campo sempre aberto às novas concepções e contestações sem perder de vista os dados, o rigor e a coerência e aceitando, inclusive, no dizer de Karl Popper, que “o que prova que uma teoria é cientifica é o fato de ela ser falível e aceitar ser refutada”.
A ciência é, e continua a ser, uma aventura. A verdade da ciência não está unicamente na capitalização das verdades adquiridas, na verificação das teorias conhecidas, mas no caráter aberto da aventura que permite, melhor dizendo, que hoje exige a contestação das suas próprias estruturas de pensamento. Bronovski dizia que o conceito da ciência não é nem absoluto nem eterno. Talvez estejamos num momento critico em que o próprio conceito de ciência se esteja modificando.

Morin, Edgar. Ciência com Consciência. Rio de Janeio: Bertrhand Brasil, 1996. p.16

Atividades

  1. Explique a diferença entre senso comum e conhecimento científico.
  2. Qual a importância do senso comum e do conhecimento científico para a vida do homem?
  3. Pergunte a pelo menos, dois profissionais que trabalham com produção cientifica qual o seu conceito de ciência. Explique o significado de cada conceito a partir das reflexões realizadas em sala de aula.

Conhecimento -O tema "conhecimento" inclui, mas não está limitado, as descrições, hipóteses, conceitos, teorias, princípios e procedimentos que são ou úteis ou verdadeiros. O estudo do conhecimento é a epistemologia. Hoje existem vários conceitos para esta palavra e é sabido por todos que conhecimento é aquilo que se conhece de algo ou alguém. Isso em um conceito menos específico.
Podemos conceituar conhecimento da seguinte maneira: conhecimento é aquilo que se admite a partir da captação sensitiva sendo assim acumulável a mente humana. Ou seja, é aquilo que o homem absorve de alguma maneira, através de informações que de alguma forma lhe são apresentadas, para um determinado fim ou não. O conhecimento distingue-se da mera informaçao porque está associado a uma intencionalidade. Tanto o conhecimento como a informação consistem de declarações verdadeiras, mas o conhecimento pode ser considerado informação com um propósito
A definição clássica de conhecimento, originada em Platão diz que ele consiste de crença verdadeira e justificada.

Aristoteles divide o conhecimento em três áreas:Cientifica. Pratica e Tecnica.
Além dos conceitos aristotélico e platônico, o conhecimento pode ser classificado em uma série de designações/categorias:

Conhecimento Sensorial: É o conhecimento comum entre seres humanos e animais. Obtido a partir de nossas experiências sensitivas e fisiológicas (tato, visão, olfato, audição e paladar).
Conhecimento Intelectual: Esta categoria é exclusiva ao ser humano; trata-se de um raciocínio mais elaborado do que a mera comunicação entre corpo e ambiente. Aqui já pressupõe-se um pensamento, uma lógica.
Conhecimento Empírico/Vulgar/Popular: É a forma de conhecimento do tradicional (hereditário), da cultura, do senso comum, sem compromisso com uma apuração ou análise metodológica. Não pressupõe reflexão, é uma forma de apreensão passiva, acrítica e que, além de subjetiva, é superficial.


Conhecimento Científico: Preza pela apuração e constatação. Busca por leis e sistemas, no intuito de explicar de modo racional aquilo que se está observando. Não se contenta com explicações sem provas concretas; seus alicerces estão na metodologia e na racionalidade. Análises são fundamentais no processo de construção e síntese que o permeia, isso, aliado às suas demais características, faz do conhecimento científico quase uma antítese do empírico.

Conhecimento Filosófico: Mais ligado à construção de idéias e conceitos. Busca as verdades do mundo por meio da indagação e do debate; do filosofar. Portanto, de certo modo assemelha-se ao conhecimento científico - por valer-se de uma metodologia experimental -, mas dele distancia-se por tratar de questões imensuráveis, metafísicas. A partir da razão do homem, o conhecimento filosófico prioriza seu olhar sobre a condição humana.

Conhecimento Teológico: Conhecimento adquirido a partir da fé teológica, é fruto da revelação da divindade. A finalidade do Teólogo é provar a existência de Deus e que os textos Bíblicos foram escritos mediante inspiração Divina, devendo por isso ser realmente aceitos como verdades absolutas e incontestáveis. A fé não é cega baseia-se em experiências espirituais, históricas, arqueológicas e coletivas que lhes dá sustentação.

Conhecimento Intuitivo: Inato ao ser humano, o conhecimento intuitivo diz respeito à subjetividade. Às nossas percepções do mundo exterior e à racionalidade humana. Manifesta-se de maneira concreta quando, por exemplo, tem-se uma *epifania.

Leitura Complementar

Texto 1. Conhecimento cientifico para Auguste Comte

Pra Comte o conhecimento cientifico é baseado na observação dos fatos e nas relações entre fatos que são estabelecidos pelo raciocínio. Estas relações excluem tentativas de descobrir a origem, ou uma causa subjacente aos fenômenos, e são, na verdade, a descrição das leis que os regem. Comte afirma: Nossas pesquisas positivas devem essencialmente reduzir-se, em todos os gêneros, à apreciação sistemática daquilo que é, renunciando a descobrir sua primeira origem e seu destino final”.(...) (Discurso sobre o espírito positivo, 1º. Parte. III)
O Conhecimento cientifico positivo, que estabelece as leis que regem os fenômenos de forma refletir o modo como tais leis operam na natureza, tem para Comte ainda, duas características: é um conhecimento sempre certo, não se admitindo conjeturas, e é um conhecimento que sempre tem algum grau de precisão(...). Assim, Comte reforça a noção de que o conhecimento cientifico é um conhecimento que não admite duvidas e indeterminações e desvincula-se de todo conhecimento especulativo.
“Se, conforme a explicação precedente, as diversas ciências devem necessariamente apresentar uma precisão muito desigual, não resulta daí, de modo algum, sua certeza. Cada uma pode oferece resultados tão certos como qualquer outra, desde que saiba encerrar suas conclusões no grau de precisão que os fenômenos correspondentes comportam, condição nem sempre fácil de cumprir. Numa ciência qualquer, tudo o que é simplesmente conjectural é apenas mais ou menos provável, não está aí seu domínio essencial: tudo o que é positivo, isto é, fundado em fatos bem constatados, é certo – não há distinção a esse respeito. (Curso de Filosofia Positiva 2º. Lição XI)

Leia atentamente o texto e responda

A partir das discussões realizadas em sala e dos elementos apresentados no texto, explique a seguinte afirmação: O conhecimento científico é sempre certo e não admite duvidas.

Você concorda a com a afirmação acima? Explique o seu posicionamento.


Texto 2 . Ciência e Vida

O termo ciência vem do latim, scientia de sciens, conhecimento, sabedoria. É um corpo de doutrina organizado metodicamente, que constitui uma área do saber e é relativo a determinado objeto.
O que caracteriza cada ciência é seu objeto formal, ou seja, a coisa observada, porem o desdobramento dos objetos do saber cientifico caminhou progressivamente para a especialização das ciências (ato que marcou sobremaneira o século XIX com o advento da técnica e da industrialização). Isto culminaria na perda da visão totalitária do ser e na sua conseqüente fragmentação.
Para Morin(1982 pp. 25-33), o saber cientifico necessita de objetividade, na busca da verdade, e também deve possuir método próprio, responsável pelo cumprimento de um plano para observação e a verificação de qualquer matéria. Entretanto esse caráter objetivo da ciência, que corresponde aos dados variáveis coletados, traz consigo uma gama irrestrita de pensamentos, teorias e paradigmas que nos remete para a reflexão bioantropológica do conhecimento, bem como para a reflexão das teorias nos aspectos culturais, sociais e históricos. Não se pode perder de vista que o cientista investiga as ciências é um ser humano falível e é preciso que as ciências se questionem acerca de suas estruturas ideológicas.
Nesse contexto, a questão “o que é ciência?” ainda não conta com uma resposta cientifica, considerando que todas as ciências, incluindo as físicas e biológicas, são também sociais. Portanto, têm origem, enraizamento e componente biofísico, o que seu campo de estudo procura renegar, na tentativa de expressar, por meio de sua especialização, a estrutura do pensamento linear do conhecimento cientifico, ou seja, a ciência, com suas teorias e metodologias “salvadoras”, não dispõe de habilidade e refletir-se para o conhecimento.
Dessa forma, não é cientifico tentar definir as fronteiras da ciência. Não é cientifico porque não é seguro e qualquer pretensão em fazê-lo tornar-se-ia irresponsável.
Petraglia, Isabel Cristina; Edgar Morin: a educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis: Vozes 1995, p. 42-44.

Leia Atentamente o texto e responda

Considerando as reflexões sobre a primeira leitura complementar e os elementos contidos em Ciência e Vida, explique por que a questão “o que é ciência” ainda não conta com urma resposta cientifica.

Bibliografia: Apostila Positivo

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Ensinar Filosofia a Jovens e Crianças

A filosofia é um exercício que fazemos quase sem pensar. Quando observamos os fatos do mundo e tentamos deles nos abstrair, para ver um sentido, estamos filosofando. Para a criança e o jovem, guardadas as diferenças de complexidade de raciocínio, é importante ensinar filosofia, para que aos poucos estruturem um pensamento organizado, investigativo, crítico sobre as coisas. 2005 foi o Ano Internacional da Física. Isto nos lembra as reflexões de Einstein, o mais famoso físico, que nos trouxe um questionamento filosófico central: ele mostrou que, ao tentarmos cronometrar um fato, o resultado dependerá de nossa posição em relação a este fato. Einstein mesmo reconheceria que sua descoberta da teoria da relatividade teve grande contribuição dos filósofos, que o despertaram para a questão epistemológica (do grego episteme, que significa conhecimento). Neste momento, resgatava-se a integridade do saber que, desde a física experimental, criada por Galileu Galilei, gerara uma grande ruptura entre a filosofia e a ciência. A contribuição da filosofia no dia-a-dia da vida. Uma criança ou jovem, ao refletir sobre o que acontece à sua volta, sobre o que sente, sobre como as pessoas agem, apropriando-se progressivamente da contribuição da filosofia, para este conhecimento, realiza um avanço em termos de raciocínio e de consciência sobre a vida e o mundo. Outro dia, a mãe de uma criança de 9 anos contava sobre uma pergunta de sua filha: "Mãe, que é mensalão?". A mãe explicou, de forma simples e direta: "é um pagamento que uma pessoa faz para que a outra pessoa vote no que ela deseja." Satisfeita por ter sido objetiva e rápida na resposta, assustou-se a mãe poucos minutos depois quando a menina respondeu: "Ah! Eu sei.. é como fazemos na escola... Queríamos que os outros votassem no mesmo nome que escolhemos para a nossa biblioteca para a nossa classe ganhar... E por isso pagamos a cada um que votasse em nosso nome com uma figurinha e um doce...". A partir daí, a mãe teve que entrar em uma discussão que, como inúmeras outras mães, nunca havia tido com sua filha: a questão da ética, a questão da liberdade do pensamento, a questão da luta honesta pelas verdades em que se acredita. Isto é filosofia. A Unesco destacou a importância do ensino da filosofia para crianças e, neste sentido, vale a pena ler a Declaração de Paris, documento organizado pela Unesco há 10 anos atrás. Declaração de Paris

A filosofia facilita também a que o jovem desenvolva a tolerância. Ele percebe que há várias formas de ver uma realidade, dependendo do ponto de partida. Mesmo assim, como a filosofia o exige no sentido da verdade, ele terminará exercitando a mente no sentido da abrangência, da diversidade, mesmo que conclua por algumas crenças que lhe pareçam mais interessantes e instigantes. Piaget define esta questão com clareza: "A filosofia, ao visar a totalidade do real, comporta necessariamente dois caracteres que constituem a sua originalidade própria: o primeiro é que ela não poderia dissociar as questões umas das outras, uma vez que o seu esforço específico consiste em atingir o todo; o segundo é que, tratando-se duma coordenação conjunta de actividades humanas, cada posição filosófica determina valorações e uma adesão, o que exclui a possibilidade de um acordo geral dos espíritos na medida em que os valores em questão permanecem irredutíveis." (J. Piaget, A Situação das Ciências do Homem no Sistema das Ciências.)

(Net Educação)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O amor é uma Falácia*

(M. Sulman)
Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto - era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos.
Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar a alguma idiotice só porque os outros a segue, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez. Petey, no entanto, não pensava assim.
Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: apendicite.
- Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o médico.
- Couro preto - balbuciou ele.
- Couro preto? - disse eu, interrompendo a minha corrida.
- Quero uma jaqueta de couro preto - disse.
Percebi que o seu problema não era físico, mas mental.
- Por que você quer uma jaqueta de couro preto?
- Eu devia ter adivinhado - gritou ele, socando a cabeça - Devia ter adivinhado que eles voltariam com o Charleston. Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar uma jaqueta de couro preto.
- Quer dizer - perguntei incrédulo - que estão mesmo usando jaquetas de couro preto outra vez?
- Todas as pessoas importantes da universidade estão. Onde você tem andado?
- Na biblioteca - respondi, citando um lugar não freqüentado pela pessoas importantes da Universidade.
Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto.
- Preciso conseguir uma jaqueta de couro preto - disse, exaltado - Preciso mesmo.
- Por que, Pety? Veja a coisa racionalmente. Jaquetas de couro preto são desconfortáveis. Impedem o movimento dos braços. São pesadas, são feias, são …
- Você não compreende - interrompeu ele com impaciência - é o que todos estão usando. Você não quer andar na moda?
- Não - respondi, sinceramente.
- Pois eu sim - declarou ele - daria tudo para ter uma jaqueta de couro preto. Tudo.
Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou a funcionar a todo vapor.
- Tudo? - perguntei, examinando seu rosto com olhos semicerrados.
- Tudo - confirmou ele, em tom dramático.
Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar uma jaqueta de couro preto. Meu pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora dentro de um malão, no sótão da casa. E, também por acaso, Petey tinha algo que eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua namorada, Polly Spy.
Eu há muito desejava Polly Spy. Apresso-me a esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A moça, não há dúvida, despertava emoções, mas eu não era daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais.
Cursava eu o primeiro ano de direito. Dali a algum tempo, estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem a importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um advogado. Os advogados de sucesso, segundo as minhas observações, eram quase sempre casados com mulheres bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Polly preenchia perfeitamente estes requisitos.
Era bonita. Suas proporções ainda não eram clássicas, mas eu tinha certeza de que o tempo se encarregaria de fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá.
Graciosa também era. Por graciosa quero dizer cheia de graças sociais. Tinha porte ereto, a naturalidade no andar e a elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. Á mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no barzinho da escola comendo a especialidade da casa - um sanduíche que continha pedaços de carne assada, molho, castanhas e repolho - sem nem sequer umedecer os dedos.
Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o oposto. Mas eu confiava em que, sob a minha tutela, haveria de tornar-se brilhante. Pelo menos valia a pena tentar. Afinal de contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita.
- Petey - perguntei - você ama Polly Spy?
- Eu acho que ela é interessante - respondeu - mas não sei se chamaria isso de amor. Por quê?
- Você - continuei - tem alguma espécie de arranjo formal com ela? Quero dizer, vocês saem exclusivamente um com o outro?
- Não. Nos vemos seguidamente. Mas saímos os dois com outros também. Por quê?
- Existe alguém - perguntei - algum outro homem que ela goste de maneira especial?
- Que eu saiba não. Por quê?
Fiz que sim com a cabeça, satisfeito.
- Em outras palavras, a não ser por você, o campo está livre, é isso?
- Acho que sim. Aonde você quer chegar?
- Nada, anda - respondi com inocência, tirando minha mala de dentro do armário.
- Onde é que você vai? - quis saber Petey.
- Passar o fim de semana em casa.
Atirei algumas roupas dentro da mala.
- Escute - disse Petey, apegando-se com força ao meu braço - em casa, será que você não poderia pedir dinheiro ao seu pai, e me emprestar para comprar uma jaqueta de couro preto?
- Posso até fazer mais do que isso - respondi, piscando o olho misteriosamente. Fechei a mala e saí.
- Olhe - disse a Petey, ao voltar na segunda feira de manhã. Abri a mala e mostrei o enorme objeto cabeludo e fedorento que meu pai usara ao volante de seu Stutz Beacat em 1955.
- Santo Pai - exclamou Petey com reverência. Passou as mãos na jaqueta e depois no rosto.
- Santo Pai - repetiu, umas quinze ou vinte vezes.
- Você gostaria de ficar com ele? - perguntei.
- Sim - gritou ele, apertando a jaqueta contra o peito. Em seguida, seus olhos assumiram um ar precavido. - O que quer em troca?
- A sua namorada - disse eu, não desperdiçando palavras.
- Polly? - sussurrou Petey, horrorizado. - Você quer a Polly?
- Isso mesmo.
Ele jogou a jaqueta pra longe.
- Nunca - declarou resoluto.
Dei de ombros.
- Tudo bem. Se você não quer andar na moda, o problema é seu.
Sentei-me numa cadeira e fingi que lia um livro, mas continuei espiando Petey, com o rabo dos olhos. Era um homem partido em dois. Primeiro olhava para a jaqueta com a expressão de uma criança desamparada diante da vitrine de uma confeitaria. Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, altivo. Depois voltava a olhar para a jaqueta. Com uma expressão ainda maior de desejo no rosto. Depois virava-se outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e vinha, o desejo ascendendo, a resolução descendendo. Finalmente, não se virou mais: ficou olhando para a jaqueta com pura lascívia.
- Não é como se eu estivesse apaixonado por Polly - balbuciou. - Ou mesmo namorando sério, ou coisa parecida.
- Isso mesmo - murmurei.
- Afinal, Polly significa o que para mim, ou eu pra ela?
- Nada - respondi.
- Foi uma coisa banal. Nos divertimos um pouco. Só isso.
- Experimente a jaqueta - disse eu.
Ele obedeceu. A jaqueta ficou bem larga, passando da cintura. Ele parecia um motoqueiro mal vestido da década de cinqüenta.
- Serve perfeitamente - disse, contente.
Levantei-me da cadeira e perguntei, estendendo a mão.
- Negócio feito?
Ele engoliu a seco.
- Feito - disse, e apertou a minha mão.
Saí com Polly pela primeira vez na noite seguinte.
O Primeiro programa teria o caráter de pesquisa preparatória. Eu desejava saber o trabalho que me esperava para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei-a para jantar.
- Puxa, que jantar interessante! - disse ela, quando saímos do restaurante. Fomos ao cinema.
- Puxa, que filme interessante! - disse ela, quando saímos do cinema.
Levei-a para casa.
- Puxa, que noite interessante - disse ela, ao nos despedirmos.
Voltei para o quarto com o coração pesado. Eu subestimara gravemente as proporções da minha tarefa. A ignorância daquela moça era aterradora. E não seria o bastante apenas instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a pensar. O empreendimento se me afigurava gigantesco, e a princípio me vi inclinado a devolvê-la a Petey. Mas aí comecei a pensar nos seus dotes físicos generosos e na maneira como entrava numa sala ou segurava uma faca, um garfo, e decidi tentar novamente.
Procedi, como sempre, sistematicamente. Dei-lhe um curso de Lógica. Acontece que, como estudante de direito, eu freqüentava na ocasião aulas de Lógica, e portanto tinha tudo na ponta da língua.
- Polly - disse eu, quando fui buscá-la para o nosso segundo encontro. - Esta noite vamos até o parque conversar.
- Ah, que interessante! - respondeu ela.
Uma coisa deve ser dita em favor da moça: seria difícil encontrar alguém tão bem disposta para tudo.
Fomos até o parque, o local de encontros da universidade, nos sentamos debaixo de uma árvore, e ela me olhou cheia de expectativa.
- Sobre o que vamos conversar? - perguntou.
- Sobre Lógica.
Ela pensou durante alguns segundos e depois sentenciou:
- Interessante!
- A Lógica - comecei, limpando a garganta - é a ciência do pensamento. Se quisermos pensar corretamente, é preciso antes saber identificar as falácias mais comuns da Lógica. É o que vamos abordar hoje.
- Interessante! - exclamou ela, batendo palmas de alegria.
Fiz uma careta, mas segui em frente, com coragem.
- Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter.
- Vamos - animou-se ela, piscando os olhos com animação.
- Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não qualificada. Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar.
- Eu estou de acordo - disse Polly, fervorosamente. - Quer dizer, o exercício é maravilhoso. Isto é, desenvolve o corpo e tudo.
- Polly - disse eu, com ternura - o argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício é ruim. Muitas pessoas têm ordem de seus médicos para não exercitarem. É preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom para a maioria das pessoas. Do contrário está-se cometendo um Dicto Simpliciter. Você compreende?
- Não - confessou ela. - Mas isso é interessante. Quero mais. Quero mais!
- Será melhor se você parar de puxar a manga da minha camisa - disse eu e, quando ela parou, continuei:
- Em seguida, abordaremos uma falácia chamada generalização apressada. Ouça com atenção: você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Petey Bellows não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na universidade sabe falar francês.
- É mesmo? - espantou-se Polly. - Ninguém?
Contive a minha impaciência.
- É uma falácia, Polly. A generalização é feita apressadamente. Não há exemplos suficientes para justificar a conclusão.
- Você conhece outras falácias? - perguntou ela, animada. - Isto é até melhor do que dançar.
- Esforcei-me por conter a onda de desespero que ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada com aquela moça, absolutamente nada. Mas não sou outra coisa senão persistente. Continuei.
- A seguir, vem o Post Hoc. Ouça: Não levemos Bill conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai junto, começa a chover.
- Eu conheço uma pessoa exatamente assim - exclamou Polly. - Uma moça da minha cidade, Eula Becker. Nunca falha. Toda vez que ela vai junto a um piquenique…
- Polly - interrompi, com energia - é uma falácia. Não é Eula Becker que causa a chuva. Ela não tem nada a ver com a chuva. Você estará incorrendo em Post Hoc, se puser a culpa na Eula Becker.
- Nunca mais farei isso - prometeu ela, constrangida. - Você está bravo comigo?
- Não Polly - suspirei. - Não estou bravo.
- Então conte outra falácia.
- Muito bem. Vamos experimentar as premissas contraditórias.
- Vamos - exclamou ela alegremente.
Franzi a testa, mas continuei.
- Aí vai um exemplo de premissas contraditórias. Se Deus pode fazer tudo, pode fazer uma pedra tão pesada que ele mesmo não conseguirá levantar?
- É claro - respondeu ela imediatamente.
- Mas se ele pode fazer tudo, pode levantar a pedra.
- É mesmo - disse ela, pensativa. - Bem, então eu acho que ele não pode fazer a pedra.
- Mas ele pode fazer tudo - lembrei-lhe.
Ela coçou a cabeça linda e vazia.
- Estou confusa - admitiu.
- É claro que está. Quando as premissas de um argumento se contradizem, não pode haver argumento. Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível. Compreendeu?
- Conte outra dessas histórias interessantes - disse Polly, entusiasmada.
Consultei o relógio.
- Acho melhor parar por aqui. Levarei você em casa, e lá pensará no que aprendeu hoje. Teremos outra sessão amanhã.
Deixei-a no dormitório das moças, onde ela me assegurou que a noitada fora realmente interessante, e voltei desanimadamente para o meu quarto. Petey roncava sobre sua cama, com a jaqueta de couro encolhida a seus pés. Por alguns segundos, pensei em acordá-lo e dizer que ele podia ter Polly de volta. Era evidente que o meu projeto estava condenado ao fracasso. Ela tinha, simplesmente, uma cabeça à prova de Lógica.
Mas logo reconsiderei. Perdera uma noite, por que não perder outra? Quem sabe se em alguma parte daquela cratera de vulcão adormecido que era a mente de Polly, algumas brasas ainda estivessem vivas. Talvez, de alguma maneira, eu ainda conseguisse abaná-las até que flamejasse. As perspectivas não eram das mais animadoras, mas decidi tentar outra vez.
Sentado sob uma árvore, na noite seguinte, disse:
- Nossa primeira falácia desta noite se chama ad misericordiam.
Ela estremeceu de emoção.
- Ouça com atenção - comecei - Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas qualificações, o homem responde que tem uma mulher e dois filhos em casa, que a mulher e aleijada, as crianças não tem o que comer, não tem o que vestir nem o que calçar, a casa não tem camas, não há carvão no porão e o inverno se aproxima.
Uma lágrima desceu por cada uma das faces rosadas de Polly.
- Isso é horrível, horrível! - soluçou.
- É horrível - concordei - mas não é um argumento. O homem não respondeu à pergunta do patrão sobre as suas qualificações. Ao invés disso, tentou despertar a sua compaixão. Cometeu a falácia de ad misericordiam. Compreendeu?
Dei-lhe um lenço e fiz o possível para não gritar enquanto ela enxugava os olhos.
- A seguir - disse, controlando o tom da voz - discutiremos a falsa analogia. Eis um exemplo: deviam permitir aos estudantes consultar seus livros durante os exames. Afinal, os cirurgiões levam as radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas que os orientam na construção de uma casa. Por quê, então, não deixar que os alunos recorram a seus livros durante uma prova?
- Pois olhe - disse ela entusiasmada - está e a idéia mais interessante que eu já ouvi há muito tempo.
- Polly - disse eu com impaciência - o argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não estão fazendo teste para ver o que aprenderam, e os estudantes sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia entre elas.
- Continuo achando a idéia interessante - disse Polly.
- Santo Cristo! - murmurei, com impaciência.
- A seguir, tentaremos a hipótese contrária ao fato.
- Essa parece ser boa - foi a reação de Polly.
- Preste atenção: se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da existência do rádio.
- É mesmo, é mesmo - concordou Polly, sacudindo a cabeça. - Você viu o filme? Eu fiquei louca pelo filme. Aquele Walter Pidgeon é tão bacana! Ele me faz vibrar.
- Se conseguir esquecer o Sr. Pidgeon por alguns minutos - disse eu, friamente - gostaria de lembrar que o que eu disse é uma falácia. Madame Curie teria descoberto o rádio de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa podia acontecer. Não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e tirar dela qualquer conclusão defensável.
- Eles deviam colocar o Walter Pidgeon em mais filmes - disse Polly - Eu quase não vejo ele no cinema.
Mais uma tentativa, decidi. Mas só mais uma. Há um limite para o que podemos suportar.
- A próxima falácia é chamada de envenenar o poço.
- Que engraçadinho! - deliciou-se Polly.
- Dois homens vão começar um debate. O primeiro se levante e diz: ‘o meu oponente é um mentiroso conhecido. Não é possível acreditar numa só apalavra do que ele disser’. Agora, Polly, pense bem, o que está errado?
Vi-a enrugar a sua testa cremosa, concentrando-se. De repente, um brilho de inteligência - o primeiro que vira - surgiu nos seus olhos.
- Não é justo! - disse ela com indignação - Não é justo. O primeiro envenenou o poço antes que os outros pudesse beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta começar… Polly, estou orgulhoso de você.
- Ora - murmurou ela, ruborizando de prazer.
- Como vê, minha querida, não é tão difícil. Só requer concentração. É só pensar, examinar, avaliar. Venha, vamos repassar tudo o que aprendemos até agora.
- Vamos lá - disse ela, com um abano distraído da mão.
Animado pela descoberta de que Polly não era uma cretina total, comecei uma longa e paciente revisão de tudo o que dissera até ali. Sem parar citei exemplos, apontei falhas, martelei sem dar trégua. Era como cavar um túnel. A princípio, trabalho duro e escuridão. Não tinha idéia de quando veria a luz ou mesmo se a veria. Mas insisti. Dei duro, até que fui recompensado. Descobri uma fresta de luz. E a fresta foi se alargando até que o sol jorrou para dentro do túnel, clareando tudo.
Levara cinco noites de trabalho forçado, mas valera a pena. Eu transformara Polly em uma lógica, e a ensinara a pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma mulher digna de mim. Está apta a ser minha esposa, uma anfitriã perfeita para as minhas muitas mansões. Uma mãe adequada para os meus filhos privilegiados.
Não se deve deduzir que eu não sentia amor por ela. Muito pelo contrário. Assim como Pigmaleão amara a mulher perfeita que moldara para si, eu amava a minha. Decidi comunicar-lhe os meus sentimentos no nosso encontro seguinte. Chegara a hora de mudar as nossas relações, de acadêmicas para românticas.
- Polly, disse eu, na próxima vez que nos sentamos sob a árvore - hoje não falaremos de falácias.
- Puxa! - disse ela, desapontada.
- Minha querida - prossegui, favorecendo-a com um sorriso - hoje é a sexta noite que estamos juntos. Nos demos esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um bom par.
- Generalização apressada - exclamou ela, alegremente.
- Perdão - disse eu.
- Generalização apressada - repetiu ela. - Como é que você pode dizer que formamos um bom par baseado em apenas cinco encontros?
Dei uma risada, contente. Aquela criança adorável aprendera bem as suas lições.
- Minha querida - disse eu, dando um tapinha tolerante na sua mão - cinco encontros são o bastante. Afinal, não é preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não.
- Falsa Analogia - disse Polly prontamente - eu não sou um bolo, sou uma pessoa.
Dei outra risada, já não tão contente. A criança adorável talvez tivesse aprendido a sua lição bem demais. Resolvi mudar de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de amor simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto o meu potente cérebro selecionava as palavras adequadas. Depois reiniciei.
- Polly, eu te amo. Você é tudo no mundo pra mim, é a lua e a estrelas e as constelações no firmamento. For favor, minha querida, diga que será minha namorada, senão a minha vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei comida, vagarei pelo mundo aos tropeções, um fantasma de olhos vazios.
Pronto, pensei; está liquidado o assunto.
- Ad misericordiam - disse Polly.
Cerrei os dentes. Eu não era Pigmaleão; era Frankenstein, e o meu monstro me tinha pela garganta. Lutei desesperadamente contra o pânico que ameaçava invadir-me. Era preciso manter a calma a qualquer preço.
- Bem, Polly - disse, forçando um sorriso - não há dúvida que você aprendeu bem as falácias.
- Aprendi mesmo - respondeu ela, inclinando a cabeça com vigor.
- E quem foi que ensinou a você, Polly?
- Foi você.
- Isso mesmo. E portanto você me deve alguma coisa, não é mesmo, minha querida? Se não fosse por mim, você nunca saberia o que é uma falácia.
- Hipótese Contrária ao Fato - disse ela sem pestanejar.
Enxuguei o suor do rosto.
- Polly - insisti, com voz rouca - você não deve levar tudo ao pé da letra. Estas coisas só têm valor acadêmico. Você sabe muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a ver com a vida.
- Dicto Simpliciter - brincou ela, sacudindo o dedo na minha direção.
Foi o bastante. Levantei-me num salto, berrando como um touro.
- Você vai ou não vai me namorar?
- Não vou - respondeu ela.
- Por que não? - exigi.
- Porque hoje à tarde eu prometi a Petey Bellows que eu seria a namorada dele.
Quase caí para trás, fulminado por aquela infâmia. Depois de prometer, depois de fecharmos negócio, depois de apertar a minha mão!
- Aquele rato! - gritei, chutando a grama. - Você não pode sair com ele, Polly. É um mentiroso. Um traidor. Um rato.
- Envenenar o poço - disse Polly - E pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma falácia.
Com uma admirável demonstração de força de vontade, modulei a minha voz.
- Muito bem - disse - você é uma lógica. Vamos olhar as coisas logicamente. Como pode preferir Petey Bellows? Olhe para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um homem com futuro assegurado. E veja Petey: um maluco, um boa vida, um sujeito que nunca saberá se vai comer ou não no dia seguinte. Você pode me dar uma única razão lógica para namorar Petey Bellows?
- Posso sim - declarou Polly - Ele tem uma jaqueta de couro preto.

[in SULMAN, M. As calcinhas cor-de-rosas do Capitão. Porto Alegre: Ed. Globo, 1973.]
* Falácia:Argumento capcioso que induz a erro; engano, ilusão, sofisma.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Filosofia Antiga

Tales
Tales nasceu me Mileto, atual Turquia, e foi considerado o pai da filosofia grega. Fundou a Escola Jônica e firmou temas polêmicos dentro da filosofia, como a verdade, a totalidade, a ética e a política, o que até hoje são temas discutidos. Não deixou nenhuma obra escrita a respeito de seus pensamentos, tudo o que se sabe sobre ele origina-se de citações de outros filósofos como Aristóteles, Platão e Diógenes Laércio. era úmido, sendo gerado Viveu no período Pré-socrático e utilizou somente a natureza (physis) como fonte de seus pensamentos a partir da água, ar, fogo e terra. Como monista, atribuía à água o princípio de todas as coisas, ou seja, acreditava que todo o universo se originara a partir dela. Como cita Aristóteles, Tales defendia que tudo no universo pela água. Conhecedor de diversas áreas usava-as para sobreviver. Introduziu a geometria na Grécia estudando retas e ângulos com os egípcios e estudou a primeira medida de tempo utilizando o relógio solar, fato que o beneficiou quando, estudando o céu, conseguiu prever uma situação apropriada para a colheita de azeitonas. Estudando a medida de tempo percebeu que existiam determinados períodos em que mantinham características distintas dos outros, eram as estações do ano. De acordo com tais características percebidas, Tales conseguia prever as características apropriadas para cada atividade a ser realizada. Tales também opinava sobre a alma dizendo que essa é cinética e que ainda está cheia de deuses, pois acreditava que a alma se movia.

Parmênides de Eléia

Parmênides de Eléia (cerca de 530 a.C. - 460 a.C.) nasceu em Eléia, hoje Vélia, Itália. Foi o fundador da escola eleática. Há uma tradição que afirma ter sido Parmênides o discípulo de Xenófanes de Cólofon mas não há certeza sobre o facto, já que uma tradição distinta afirma ter sido o filósofo pitagórico Amínias (ou Ameinias) quem despertou a vocação filosófica de Parmênides.
Os outros representantes da escola eleática são Zenão de Eléia e Melisso de Samos.

O pensamento de Parmênides
Seu pensamento está exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza, dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte:
Unidade e a imobilidade do Ser;
O mundo sensível é uma ilusão;
O Ser é Uno, Eterno, Não-Gerado e Imutável.
Heráclito de Éfeso'(Hράκλειτος ὁ 'Eφέσιος)
Nascimento
540/535 a.C.Éfeso, atual Turquia
Falecimento
475/470 a.C.
Nacionalidade
Grego
Ocupação
Filósofo

Heráclito de Éfeso foi um filósofo pré-socrático, recebeu o cognome de "pai da dialética". Problematiza a questão do devir (mudança). Recebeu a alcunha de "Obscuro", pois desprezava a plebe, recusou-se a participar da política (que era essencial aos gregos), e tinha também desprezo pelos poetas, filósofos e pela religião. Sua alcunha derivou-se principalmente devido ao livro (Sobre a Natureza) que escreveu com um estilo obscuro, próximo a sentenças oraculares.
Sócrates

Sócrates nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 AC, e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o que conhecemos hoje por filosofia ocidental. Foi influenciado pelo conhecimento de um outro importante filósofo grego : Anaxágoras. Seus primeiros estudos e pensamentos discorrem sobre a essência da natureza da alma humana. Filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta, nasceu e viveu nas cercanias de Atenas, onde desposou Xantipa, mulher de gênio irascível que hostilizava o marido e lhe desdenhava a filosofia (mas que permaneceu ao seu lado até o último instante e lhe chorou a morte, justamente com os três filhos que lhes dera).

Algumas frases e pensamentos atribuídos ao filósofo Sócrates

Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.
É melhor fazer pouco e bem, do que muito e mal.
Não penses mal dos que procedem mal; pense somente que estão equivocados.
A verdade não está com os homens, mas entre os homens.
Sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos.
Todo o meu saber consiste em saber que nada sei.
Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus.
Platão

Nascimento
428/27 a.C.Atenas
Falecimento
347 a.C.Atenas
Ocupação
Filósofo
Escola/tradição- Platonismo

Discipulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua caracteristica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Πλάτος (plátos) em grego significa amplitude, dimensão, largura. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e Teoria do Conhecimento.
Aristóteles de Estagira

Nascido em Estagira, na Macedônia, Aristóteles (384 – 322 a. C.) foi um dos mais importantes filósofos gregos da Antigüidade. Há informações de que teria escrito mais de uma centena de obras sobre os mais variados temas, das quais restaram 47, embora nem todas de autenticidade comprovada. Desempenhou extraordinário papel na organização do saber grego, acrescentando-lhe sua genial contribuição, que influenciou, decisivamente, a história do pensamento ocidental.
Filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia, provavelmente herdou do pai o interesse pelas ciências naturais, que se revelaria posteriormente em sua obra. Aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu cerca de vinte anos, tendo uma atuação crescentemente expressiva. Com a morte de Platão, a destacada competência de Aristóteles o qualificava para assumir a direção da Academia. Seu nome, entretanto, foi preterido por ser considerado estrangeiro pelos atenienses.
Decepcionado com o episódio, deixou a Academia e partiu para Assos, na Mísia, Ásia Menor, onde permaneceu até 345 a.C. Pouco tempo depois foi convidado por Felipe II, rei da Macedônia, para ser professor de seu filho Alexandre. O relacionamento de Aristóteles e Alexandre foi interrompido quando este assumiu a direção do Império Macedônico, em 340 a.C.
Por volta de 335 a.C., Aristóteles regressou a Atenas, fundado sua própria escola filosófica, que passou a ser conhecida como Liceu, em homenagem ao deus Apolo Lúcio. Nesse local permaneceu ensinando durante aproximadamente doze anos.
Em 323 a. C., após a morte de Alexandre, os sentimentos anti-macedônicos ganharam grande intensidade em Atenas. Devido a sua notória ligação com a corte macedônica, Aristóteles passou a ser perseguido. Foi então que decidiu abandonar Atenas, dizendo querer evitar que os atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia” (a primeira vez teria sido com Sócrates).
Apaixonado pela biologia, dedicou inúmeros estudos à observação da natureza e à classificação dos seres vivos. Tendo em vista a elaboração de uma visão científica da realidade, desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio.

Protágoras de Abdera : o homem como medida


Nascido em Abdera, cidade litorânea entre a Macedônia e a Trácia, Protágoras (480 – 410 a.C.) é considerado o primeiro e um dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em Atenas, tendo como princípio básico de sua doutrina a idéia de que o homem de que o homem é a medida de tudo o que existe.
Conforme essa concepção, todas as coisas são relativas às disposições do homem, isto é, o mundo é o que o homem constrói e destrói. Por isso não haveria verdades absolutas. Toda verdade seria relativa a um determinado homem, grupo de homens ou sociedade.
A filosofia de Protágoras sofreu críticas em seu tempo por dar margem a um grande subjetivismo: tal coisa é verdadeira. Assim, qualquer tese poderia ser encarada como falsa ou verdadeira, dependendo do ponto de vista de cada pessoa.

Anaxágoras de Clazômenas


Anaxágoras de Clazômenas (Clazômenas, c. 500 a.C. - Lâmpsaco, 428 a.C.), filósofo grego do período pré-socrático. Nascido em Clazômenas, na Jônia, fundou a primeira escola filosófica de Atenas, contribuindo para a expansão do pensamento filosófico e científico que era desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Era protegido de Péricles que também era seu discípulo. Em 431 a.C. foi acusado de impiedade e partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jônia, e lá fundou uma nova escola.
Escreveu um tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a natureza, em que tentava conciliar a existência do múltiplo frente à crítica de Parmênides de Eléia e sua escola. Afirmava que o universo se constitui pela ação do Nous (νοῦς), conceito que geralmente é traduzido por espírito, mente ou inteligência. Segundo o filósofo, o Nous atua sobre uma mistura inicial formada de sementes que contém uma porção de cada coisa. Assim, o Nous, que é ilimitado, autônomo e não misturado com nada mais, age sobre estas sementes ordenando-as e constituindo o mundo sensível. Os fragmentos preservados versam sobre: cosmologia, biologia e percepção. Esta noção de causa inteligente, que estabelece uma finalidade na evolução universal, irá repercutir em filósofos posteriores, como Platão e Aristóteles.
Anaxágoras aparece ao lado de Pitágoras no quadro Escola de Atenas de Rafael, segurando a tableta com o número triangular 1+2+3+4, a sagrada tetractys dos Pitagóricos.
Epicuro
Nascimento
341 a. C.
Falecimento
270 a. C.
Escola/tradição
Fundador do Epicurismo

Epicuro de Samos foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador
O prazer

A doutrina de Epicuro entende que o sumo bem reside no prazer e, por isso, foi uma doutrina muitas vezes confundida com o hedonismo. O prazer de que fala Epicuro é o prazer do sábio, entendido como quietude da mente e o domínio sobre as emoções e, portanto, sobre si mesmo. É a própria Natureza que nos informa que o prazer é um bem. Este prazer, no entanto, apenas satisfaz uma necessidade ou aquieta a dor. A Natureza conduz-nos a uma vida simples. O único prazer é o prazer do corpo e o que se chama de prazer do espírito é apenas lembrança dos prazeres do corpo. O mais alto prazer reside no que chamamos de saúde. A função principal da filosofia é libertar o homem

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Homem é um animal político


O texto aristotélico da Política teve uma grande influencia no desenvolvimento da ciência política em nossa tradição e faz parte de um conjunto de estudos que inclui o exame de um grande numero de constituições das cidades-estados gregos da época, das quais só chegou até nós. A constituição de Atenas. A passagem selecionada contém a célebre definição aristotélica do homem como “animal político” (zoon politikón).

“E evidente que a cidade faz parte das coisas naturais, e que, o homem é por natureza um animal político”. E aquele que por natureza, e não simplesmente por acidente, se encontra fora da cidade ou é um ser degradado ou um ser acima dos homens, segundo Homero (Ilíada IX, 63), denuncia, tratando-se de alguém sem linhagem, sem lei, sem lar.
Aquele que é naturalmente um marginal ama a guerra e pode ser comparado a uma peça fora do jogo. Daí a evidencia de que o homem é um animal político mais ainda que as abelhas ou que qualquer outro animal gregário. Como diremos frequentemente, a natureza não faz nada em vão: ora, o homem é o único entre os animais a ter linguagem [logos]. O simples som é uma indicação do prazer ou da dor, estando, portanto presente em outros animais, pois a natureza consiste em sentir o prazer e a dor e em expressá-los, Mas a linguagem tem como objetivo a manifestação do vantajoso e do desvantajoso, e, portanto do justo e do injusto. Trata-se de uma característica do homem ser ele o único que tem o senso do bom e do mau, do justo e do injusto, bem como de outras noções deste tipo. “É a associação dos que têm em comum essas noções, que constitui a família e o Estado”.

Atividades

Por que, segundo Aristóteles, devemos afirmar que o homem é um animal político?

Qual a importância da linguagem para Aristóteles?


Vida
Aristóteles (em grego Αριστοτέλης) nasceu em Estagira, na Calcídica, território macedônico. O grego, no entanto, era o idioma falado. Era filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas II, pai de Filipe e avô de Alexandre, o Grande. É provável que o interesse de Aristóteles por biologia e fisiologia decorra da atividade médica exercida por seu pai.
Com cerca de dezesseis ou dezessete anos partiu para Atenas, maior centro intelectual e artístico da Grécia. Como muitos outros jovens de seu tempo, Aristóteles foi para aquela cidade a fim de prosseguir os estudos. Duas grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: de um lado estava a escola de Isócrates, que visava preparar o aluno para a vida política e, de outro lado, estava Platão e sua Academia, que dava preferência à ciência (episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de quem não conhecesse geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela Academia platônica e nela permaneceu até 347 a.C., ano que morre Platão.
Com a morte de seu grande mestre e com a escolha do sobrinho de Platão, Espeusipo, para a chefia da Academia, Aristóteles partiu para Assos com alguns ex-alunos da Academia. Dois fatos parecem se relacionar com esse episódio. O primeiro, é o fato de Espeusipo representar uma tendência interna que desagradava imensamente Aristóteles, isto é, a matematização da filosofia. O segundo, é o fato de Aristóteles ter-se sentido preterido(rejeitado), já que se julgava o mais apto para assumir a direção da Academia platônica.
Em Assos, Aristóteles fundou um pequeno círculo filosófico com a ajuda de Hérmias, tirano local e eventual ouvinte de Platão. Lá ficou por três anos e casou-se com Pítias, sobrinha de Hérmias. Sendo Hérmias assassinado, Aristóteles partiu para Mitilene, na ilha de Lesbos, onde realizou a maior parte de suas famosas investigações biológicas. No ano de 343 a.C. tornou-se preceptor de Alexandre, função que exerceu até 336 a.C., quando Alexandre subiu ao trono.
Neste mesmo ano, de volta a Atenas, Aristóteles fundou o Liceu e seus alunos ficaram conhecidos como peripatéticos (os que passeiam), nome esse decorrente do hábito de Aristóteles de ensinar ao ar livre, muitas vezes sob as árvores que cercavam o Liceu. Ao contrário da Academia de Platão, o Liceu privilegiava as ciências naturais. O próprio Alexandre enviava para seu antigo mestre exemplares da fauna e flora das regiões conquistadas.
Aristóteles dirigiu sua escola até 323 a.C., pouco depois da morte de Alexandre. Em vista disso, os sentimentos antimacedônios dos atenienses voltaram-se contra Aristóteles. Sentindo-se ameaçado, deixou Atenas dizendo que não iria permitir que a cidade cometesse um segundo crime contra a filosofia (alusão ao julgamento de Sócrates). Deixou sua escola aos cuidados de seu principal discípulo, Teofrasto (371 a.C. - 287 a.C.) e retirou-se para Cálcis, na Eubéia, onde morreu no ano seguinte.

Bibliografia: Textos Básicos de Filosofia(Editora Zahar)- Danilo Marcondes; Wikipédia

O fim da natureza humana e não-humana

FRANCIS FUKUYAMA

As pessoas que não vêm prestando muita atenção à discussão em torno da biotecnologia humana talvez pensem que a principal questão em pauta nesse debate diga respeito ao aborto, já que os adversários mais veementes da clonagem, até agora, têm sido os chamados defensores do direito à vida (ou seja, adversários do aborto), que se opõem à destruição de embriões. Mas existem razões importantes para que a clonagem e as tecnologias genéticas que a seguirão sejam motivo de preocupação para todas as pessoas, religiosas ou não, e sobretudo para aquelas que se preocupam em proteger o ambiente natural. Pois a tentativa de dominar a natureza humana por meio da biotecnologia será ainda mais perigosa e repleta de consequências do que os esforços feitos pelas sociedades industriais para controlar a natureza não-humana por meio de gerações anteriores de tecnologia.Se há uma coisa que o movimento ambientalista nos ensinou, nas duas últimas gerações, é que a natureza é um todo complexo. As diferentes partes de um ecossistema são mutuamente interdependentes, de uma maneira que frequentemente não conseguimos compreender, e os esforços humanos para manipular certas partes dele vão gerar uma multidão de consequências não-pretendidas que vai retornar para nos assombrar.Assistir hoje a um dos filmes feitos nos anos 1930 sobre a construção da barragem Hoover ou da Tennessee Valley Authority (órgão federal americano criado na década de 1930 para desenvolver o potencial hidrelétrico do rio Tennessee e que acabou construindo 26 barragens no rio e em seus afluentes) é uma experiência estranha. Os filmes têm um tom ao mesmo tempo ingênuo e ligeiramente stalinista, celebrando a conquista da natureza pelo homem e gabando-se da substituição dos espaços naturais por outros feitos de aço, concreto e eletricidade. Essa vitória sobre a natureza teve vida curta: na última geração, nenhum país desenvolvido empreendeu um grande projeto novo de hidrelétrica, exatamente porque hoje já compreendemos as consequências ecológicas e sociais devastadoras geradas por tais empreendimentos. Na verdade, o movimento ambientalista vem se esforçando para convencer a China a desistir da construção da tremendamente destrutiva barragem das Três Gargantas.Se o problema das consequências não-pretendidas é sério no caso dos ecossistemas não-humanos, será muito pior no campo da genética humana. De fato, o genoma humano já foi comparado a um ecossistema, em razão da maneira complexa pela qual os genes interagem uns com os outros. Estima-se hoje que há apenas cerca de 30 mil genes no genoma humano, muito menos do que os 100 mil que, até recentemente, se acreditava que houvesse. Não é um número tão maior assim do que os 14 mil genes existentes na mosca-das-frutas ou dos 19 mil que possui um verme nematóide (C. elegans) e indica que muitas das capacidades humanas são controladas pela interação complexa de vários genes.Os primeiros alvos da terapia genética serão enfermidades relativamente simples causadas por um único gene, tais como a doença de Huntington ou o mal de Tay-Sachs. Muitos geneticistas acreditam que a causalidade genética de comportamentos e características de ordem superior, tais como a personalidade, a inteligência ou mesmo a altura, é tão complexa que jamais seremos capazes de manipulá-la. Mas é precisamente aqui que mora o perigo: nós nos sentiremos constantemente tentados a pensar que conhecemos essa causalidade melhor do que a conhecemos na realidade e enfrentaremos surpresas ainda mais desagradáveis do que enfrentamos quando tentamos conquistar o ambiente natural não-humano. Nesse caso, a vítima de um experimento fracassado não será um ecossistema, mas uma criança humana cujos pais, movidos pelo desejo de dotá-la de mais inteligência, vão onerá-la com uma propensão maior a sofrer de câncer, de fraqueza prolongada na velhice ou de algum outro efeito colateral totalmente inesperado, que se manifestará muito depois.Ouvir as pessoas da indústria da biotecnologia falarem sobre as oportunidades que se abrem com a conclusão do sequenciamento do genoma humano é, de maneira estranha, um pouco como assistir àqueles velhos filmes de propaganda da barragem hidrelétrica de Hoover: há uma confiança tingida de soberba em que a biotecnologia e a inventividade científica vão poder corrigir os defeitos da natureza humana, eliminar as doenças e, quem sabe, até mesmo algum dia proporcionar ao ser humano o acesso à imortalidade. Vamos terminar como uma espécie superior, porque compreendemos quão imperfeita e

limitada é nossa natureza.Acredito que o ser humano é, em grau ainda maior do que os ecossistemas, um todo natural complexo e coerente, cuja origem evolutiva nós nem sequer começamos a compreender. Mais do que isso: possuímos direitos humanos exatamente em função dessa natureza especificamente humana. Como disse Thomas Jefferson no final da vida, os americanos gozam de direitos políticos iguais porque a natureza não fez com que determinados seres humanos nascessem com uma sela nas costas, prontos para serem cavalgados por seus superiores. Uma biotecnologia que procure manipular a natureza humana não apenas correrá o risco de desencadear consequências imprevistas como pode solapar a própria base dos direitos democráticos iguais.Como, então, defender a natureza humana? As ferramentas para isso são, essencialmente, as mesmas usadas para proteger a natureza não-humana: procurar, por meio da discussão e do diálogo, fixar normas a serem seguidas e usar o poder do Estado para regulamentar a maneira como a tecnologia será desenvolvida e utilizada pelo setor privado e pela comunidade científica.A biomedicina já é, claro, fortemente regulamentada, mas existem brechas enormes nos órgãos federais americanos cuja autoridade se estende à biotecnologia. A Food and Drug Administration dos EUA só pode regulamentar alimentos, medicamentos e outros produtos médicos com base em sua eficácia e sua segurança de uso. Ela é proibida de tomar decisões com base em considerações éticas e possui jurisdição fraca ou inexistente sobre procedimentos médicos como a clonagem, o diagnóstico genético prévio à implantação (pelo qual os embriões são testados para a averiguação de suas características genéticas, antes de serem implantados no útero) e a engenharia de células da linhagem germinativa (na qual os genes do embrião são manipulados de maneira a serem herdados pelas gerações futuras).Os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH) criaram diversas regras cobrindo a realização de experiências com seres humanos e outros aspectos da pesquisa científica, mas sua autoridade abrange apenas as pesquisas realizadas com financiamento federal, deixando livre a indústria da biotecnologia privada. Só as empresas americanas de biotecnologia gastam US$ 10 bilhões anuais em pesquisas e empregam 150 mil pessoas.Outros países estão se esforçando para criar legislação que regulamente a biotecnologia humana. Um dos dispositivos legislativos mais antigos é o do Reino Unido, que criou a Agência de Embriologia e Fertilização Humana há mais de dez anos, para regulamentar as experiências com embriões. Vinte e quatro países já proibiram a clonagem reprodutiva, incluindo Alemanha, França, Índia, Japão, Argentina, Brasil, África do Sul e Reino Unido. Em 1998, o Conselho da Europa aprovou um Protocolo Adicional a sua Convenção sobre os Direitos e a Dignidade Humanos com Relação à Biomedicina, proibindo a clonagem reprodutiva humana. O documento já foi assinado por 24 dos 43 países membros do Conselho. Alemanha e França propuseram que a ONU redija uma convenção global para proibir a clonagem reprodutiva.Qualquer pessoa que acredite na importância de defender a natureza não-humana contra a manipulação tecnológica deve acreditar igualmente na importância da defesa da natureza humana. O movimento ambientalista europeu se opõe com mais firmeza à biotecnologia do que seu equivalente nos Estados Unidos e conseguiu barrar totalmente a proliferação de alimentos transgênicos no continente. Mas, em última análise, os transgênicos são apenas o primeiro tiro disparado numa revolução muito mais prolongada, e suas consequências terão alcance muito menor do que as das biotecnologias humanas que estão surgindo. Algumas pessoas acreditam que, em vista da depredação causada pelo homem na natureza não-humana, esta última merece a proteção mais vigilante. Mas, no final das contas, ambas fazem parte do mesmo todo. Modificar genes de plantas afeta só o que cultivamos e comemos; modificar nossos próprios genes afeta quem somos.A natureza -tanto o ambiente natural que nos cerca quanto a nossa própria- merece uma abordagem baseada no respeito e no cuidado, não na dominação e no controle.· Francis Fukuyama é professor de economia política internacional na Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins. Ele é autor de "O Fim da História" (Editora Gradiva) e do recém-lançado "Our Posthuman Future: Consequences of the Biotechnology Revolution" (Farrar, Straus, and Giroux). · Artigo originalmente publicado pelo Worldwatch Institute na revista "World Watch", volume 15, número 4. A edição em português da revista "World Watch" está disponível em http://www.worldwatch.org.br/.
Folha de São Paulo - Tradução de Clara Allaim

sexta-feira, 28 de março de 2008

Texto extraído do Blog de Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu, minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

segunda-feira, 10 de março de 2008


FILOSOFIA

A Incansável Busca Pela Sabedoria

A palavra Filosofia deriva do grego "PHILOSOPHIA"
SOPHIA significa SABEDORIA
PHILO significa "Amor Filial", ou Amizade
Literalmente, um Filósofo é um AMIGO, ou AMANTE de SOPHIA, alguém que admira e busca a SABEDORIA
Esse termo foi usado pela primeira vez pelo famoso Filósofo Grego PITÁGORAS por volta do século V aC, ao responder a um de seus discípulos que ele não era um "Sábio", mas apenas alguém que amava a Sabedoria.
Filosofia é então a busca pelo conhecimento último e primordial, a Sabedoria Total.
Embora de um modo ou de outro o Ser Humano sempre tenha exercido seus dons filosóficos, a Filosofia Ocidental como um campo de conhecimento coeso e estabelecido, surge na Grécia Antiga com a figura de TALES de MILETO, que foi o primeiro a buscar uma explicação para os fenômenos da natureza usando a Razão e não os Mitos, como era de costume.
Assim como a Religião, ela também já teve sua morte decretada. No entanto a Filosofia Ocidental perdura há mais de 2.500 anos, tendo sido a Mãe de quase todas as Ciências. Psicologia, Antropologia, História, Física, Astronomia e praticamente qualquer outra derivam direta ou indiretamente da Filosofia. Entretando as "filhas" ciências se ocupam de objetos de estudo específicos, e a "Mãe" se ocupa do "Todo", da totalidade do real.
Nada escapa à investigação filosófica. A amplitude de seu objeto de estudo é tão vasta, que foge a compreensão de muitas pessoas, que chegam a pensar ser a Filosofia uma atividade inútil. Além disso seu significado também é muito distorcido no conhecimento popular, que muitas vezes a reduz a qualquer conjunto simplório de idéias específicas, as "filosofias de vida", ou basicamente a um exercício poético.
Entretanto como sendo praticamente o ponto de partida de todo o conhecimento humano organizado, a Filosofia estudou tudo o que pôde, estimulando e produzindo os mais vastos campos do saber, mas diferente da Ciência, a Filosofia não é empírica, ou seja, não faz Experiências. Mesmo por que geralmente seus objetos de estudo não são acessíveis ao Empirismo.

A RAZÃO e a INTUIÇÃO são as principais ferramentas da Filosofia, que tem como fundamento a contemplação, o deslumbramento pela realidade, a vontade de conhecer, e como método primordial a rigorosidade do raciocínio, para atingir a estruturação do pensamento e a organização do saber.

Academicamente, a Filosofia é dividida em: ANTIGA - do século VI aC até VI dC

Foi a era dos pré-socráticos, os filósofos da natureza, os Atomistas, os sofistas, de Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, Plotino e etc. Esses filósofos simplesmente construíram toda a estrutura de nosso conhecimento. Tudo o que temos hoje deve-se ao progresso promovido pelos gregos antigos, ainda que a maior parte dele tenha permanecido adormecido por mil anos. O Universo foi a principal preocupação nesta época.

MEDIEVAL - do século II dC até XV dC

A era da Filosofia Cristã, da Teologia Revelada, da tradição escolástica. A preocupação principal dos filósofos era Deus. Alguns deles foram canonizados, como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Surge a Navalha de Guilherme de Occam, que mais tarde viria a ser a ferramente básica da Ciência.

MODERNA- do século XVII aC até XIX dC

Surge junto com o Renascimento e o despertar científico, que recupera a sabedoria da Grécia Antiga. O Racionalismo Cartesiano, o Empirismo, o retorno do Ceticismo e muitos outros movimentos deram impulso a Ciência. Descartes imortalizou o "Penso Logo Existo" como um ponto de partida para a construção de um conhecimento seguro. Mais tarde Karl Marx lança as bases do Socialismo, e Adam Smith estrutura o Capitalismo. O enfoque de aí em diante se centrou no Ser Humano e suas possibilidades.

CONTEMPORÂNEA- do XIX dC até...

Os novos desafios no mundo atual surgem sob a forma da Emancipação Feminina, o rompimento definitivo dos Governos com as Igrejas Cristãs, o Existencialismo, a ênfase na Linguística, e mais recentemente o Estruturalismo e o Desconstrutivismo. Alguns nomes já se imortalizaram, como Sartre, Simone de Beauvoir ou Michael Foucalt.

E A FILOSOFIA ORIENTAL?

Embora não seja aceita como Filosofia pela maior parte dos acadêmicos, o pensamento produzido no Oriente, especificamente na China e Índia por Budistas e Hinduístas, possui algumas qualidades equivalentes a da Filosofia Ocidental.
A questão é basicamente a definição do que vem a ser a Filosofia e suas características principais, que da maneira como é colocada pelos acadêmicos ocidentais de fato exclui a Filosofia Oriental. Mas nada impede que se considere Filosofia num conceito mais amplo.
Sem dúvida a Filosofia Oriental é mais Intuitiva que a Ocidental, e menos Racional, o que contribui para sua inclinação mística e hermética. Mas não se pode negar os paralelos que esta possui principalmente com a Filosofia Antiga.
Ambas surgiram por volta do século VI aC, tratando de temas muito semelhantes e há de se considerar que Grécia e Índia não são tão distantes uma da outra a ponto de inviabilizar um contato.
Mesmo assim, a grande maioria dos estudiosos considera que não há qualquer relação entre os Pré-Socráticos e os filósofos Orientais. O que na realidade, pouco importa.
O fato é que assim como Ciência, a Arte e a Mística, a Filosofia sempre existiu em forma latente no ser humano. Nós sempre pensamos. Logo existimos.

A CRISE DA FILOSOFIA

Atualmente, a Filosofia passa por uma fase de perda de identidade. O principal motivo disto é a atual soberania da Ciência. Tal como a Religião já fora o expoente máximo em um passado, onde todos procuravam se aproximar do estatuto da autoridade religiosa, na atualidade a área do conhecimento humano mais destacada é a Ciência. Isso faz com que muitos filósofos prefiram se identificar como cientistas.
Basicamente todas as "Ciências Humanas" que conhecemos são Filosofia. História, Sociologia, Psicologia, Antropologia, Direito, Política e etc. Porém todas parecem querer gozar do prestígio da Ciência, tentando aparentar em sua essência uma característica de "científicamente estabelecido", o que garantiria uma maior aparência de confiabilidade.

FILOSOFIA e CIÊNCIA compartilham uma de suas bases, a RAZÃO, e nesse ponto se misturam, mas não compartilham o EMPIRISMO, que é a outra base da Ciência.
A confusão com relação a definição de Filosofia, e a desinformação geral, que permeia mesmo o meio acadêmico, chega a ponto de permitir o surgimento de propostas quiméricas no sentido de se eliminar a Filosofia.
Entretanto, Ciência alguma pode se ocupar com a Macro Realidade. O Empirismo não pode ser aplicado à Civilização Humana, à Mente, ao Total. Quem estabelece a comunicação entre todos os segmentos da conhecimento continua a ser a Filosofia. Continuamos gerando novos segmentos de investigação através da Filosofia, ao mesmo tempo que a tendência a Interdisciplinariedade exige uma visão cada vez mais holística para abordar os desafio no Terceiro Milênio.
Da mesma forma que a Arte, a Mística ou a Ciência, a Filosofia nunca deixará de existir enquanto houver pessoas buscando respostas.

O FILÓSOFO

Há uma grande diferença entre ser um Filósofo e estudar Filosofia. Qualquer pessoa que tente pela sua própria maneira de ver a realidade, entender racionalmente a vida , o sentido da existência, a sociedade, as relações humanas, o Universo, enfim, todos os eventos que o cercam, é um Filósofo em potencial, ainda que não possua qualquer instrução significativa.
Por outro lado é possível estudar a História da Filosofia, o pensamento dos filósofos, os eventos que marcaram a produção do pensamento humano e etc, sem nunca desenvolver uma postura de questionamento próprio sobre a realidade.
Via de regra porém, uma atitude leva a outra.
O verdadeiro Filósofo é antes de tudo um observador atento da realidade, um pensador dedicado, e que tente pelo seu próprio esforço desvendar o Universo que o cerca.
FILOSOFIA PRÁTICA

Embora a Filosofia em geral não seja produzida para resultados concretos e imediatos, crer que ela não tenha aplicação prática é apenas uma ilusão. A forma de compreender o mundo é que determina o modo como se produz as coisas, se investiga a natureza, se propõe as leis.
Ética, Política, Moral, Esporte, Arte, Ciência, Religião, tudo tem a ver com Filosofia.
O pensamento humano não apenas influenciou e influencia o mundo, na verdade é ele que o determina. Todos os movimentos sociais, econômicos, políticos, religiosos da história tem origem no pensamento humano, o domínio da Filosofia.
Se dedicar a Filosofia não é se abster da realidade, nada tem a ver com a alienação, antes o completo contrário. É procurar compreender a realidade, o primeiro passo para interagir com ela, ou mesmo alterá-la, da melhor forma possível.
Filosofar é examinar a realidade, e isso, de um modo ou de outro, todos fazemos constantemente. Ao se tentar resolver os problemas globais, sociais ou pessoais, é impossível se abster da Racionalidade. Entretanto há uma gama de situações onde a Razão não pode avançar por falta, ou excesso de dados, o que impossibilita decisões objetivas.
Entre em cena então a parte subjetiva humana, mais especificamente a Intuição, como meio de direcionar nosso foco de entendimento e apontar caminhos a serem trilhados pela racionalidade.
Isso é Filosofia em si.
...
De certo modo, a Humanidade sempre será Amante de Sophia.
Marcus Valerio XR

sexta-feira, 7 de março de 2008

Gerânio

Autora: Marisa Monte e outros
Dia Internacional da Mulher - 08 de Março

Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente
Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista
Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda
Conhece a Índia e o Japão e a dança haitiana
Fala inglês e canta em inglês
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes
Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga
Tem computador e rede, rede para dois
Gosta de eletrodomésticos, toca piano e violão
Procura o amor e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro, mas prefere cinema
Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você
Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda...

As mulheres tentam a todo custo encontrar seu lugar ao sol. Embora o que tenhamos conquistado sejam jornadas duplas ou mais de trabalho, estamos aí. Com esperança, com alegria, com emoção. Fazendo desse mundo, um mundo melhor, com certeza!
Mesmo influenciando o homem a comer o fruto proibido, lá no Éden, anos e anos atrás, acredito que nossa influencia tem sido mais positiva do que negativa. Por isso mulheres: Feliz dia internacional da mulher. O Senhor nos abençoe.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Mito e Filosofia

Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, por que confiam naquele que narra: é uma narrativa feita em publico, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador.

Quem narra o mito?
O poeta-rapsodo(é o nome dado a um artista popular ou cantor que, na antiga Grécia, ia de cidade em cidade recitando poemas). Quem é ele? Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra – o mito – é sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável.

Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? De três principais maneiras:
1. Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres, isto é, tudo o que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais deuses: os titãs (seres semi-humanos e semi-divinos), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, os metais, as plantas, os animais, as qualidades, como quente-frio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, belo-feio, certo-errado, etc.
A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados. (Exemplo: Nascimento de Eros)
2. Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre forças divinas ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens.
O poeta Homero, na Ilíada, epopéia que narra a guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos lados - ou os troianos ou os gregos - vencer a batalha.
A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe troiano Páris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos.
O mito, narra a origem do mundo e de tudo que existe nele, e a terceira principal maneira de narração mítica é:
3. Encontrando as recompensas ou os castigos que os deuses dão a quem lhes obedece ou a quem lhes desobedece, respectivamente.
Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, o fogo é essencial, pois com ele se diferenciam dos animais, porque tanto passam a cozinhar os alimentos, a iluminar caminhos na noite, a se aquecer no inverno quanto podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra.
Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os homens. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens também. Qual foi o castigo dos homens?
Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males do mundo. Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e theogonias.

Nascimento da filosofia
Podemos apontar como principais condições históricas do surgimento da filosofia na Grécia:
• As viagens marítimas – que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitadas por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;
• A invenção do calendário – que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível;
• A invenção da moeda – que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo calculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização;
• O surgimento da vida urbana – com predomínio do comercio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestigio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados;
• A invenção da escrita alfabética – que, como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas – como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses –, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve;
• A invenção da política – que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia:
1. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas.
2. O surgimento de um espaço publico que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito.
3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrario, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos.

A filosofia, ao nascer, é uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a theogonia? Duas foram as respostas dadas pelos estudiosos.
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do XX, quando reinava um grande otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. Dizia-se, então, que a filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles.
Atualmente, consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a filosofia, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente.
(adaptação livre com consulta às paginas brasilescola.com e algosobre.com.br)

Atividades

1. Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe?
2. Quais são as diferenças entre filosofia e mito?
3. Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens?
4. Quem narra o mito?
5. Quem é ele?
6. Por que tem autoridade?


Jesus, ,vive, reina e voltará.