Filosofia

Filosofia
"amor à sabedoria"

Poema sobre amizade

Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.
Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.
Albert Einstein

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

40 Dicas para ler um texto filosófico

Dr. Pe. João Carlos Almeida

1.Busque motivações – Namorar o texto (na morada) – relação pessoal.
2.Escolha do texto – textos não filosóficos poder ser lidos filosoficamente.
3.Conheça o autor.
4.Conheça o contexto da redação.
5.Descubra o pretexto.
6.Faça a “Leitura inicial”: superficial e pelas “bordas”.
7.Leia a estrutura do texto.
8.Situe o texto no sistema filosófico maior.
9.Isole vocábulos difíceis – leitura semântica.
10.Identifique o estilo redacional – leitura sintática.
11.Verifique a hipótese de fundo.
12.Tenha paciência com o texto e consigo mesmo.
13.Lembre-se: Comer e coçar… ler e pensar… é só começar!
14.Escolha criteriosamente ambiente e a hora da leitura
15.Evite textos muito difíceis logo de cara: República (Platão); Ética à Nicômaco, A poética (Aristóteles); Confissões (St. Agostinho); O ser e a essência (St. Tomás de Aquino); Discurso do método, Meditações metafísicas (Descartes); Os fundamentos da metafísica dos costumes (Kant); Lições sobre a estética (Hegel); Ensaios e conferências (Heidegger); Tractatus logicu-philosophicus (Wittgeinstein).
16.Saiba que a prática regular da leitura: é virtude.
17.Escolha um pequeno texto do texto e ler, reler, tri-ler até filosofar.
18.Exercite a “Leitura mista”: rápida e aprofundada.
19.Procure chegar à “Leitura normal”: adquire-se com o tempo um ritmo de leitura.
20.Anote em fichas: problemas, soluções, questões, idéias, frases.
21.Faça comentários.
22.Deve-se ou não escrever no próprio livro?
23.Tenha um arquivo de vocabulário.
24.Tenha um arquivo de conceitos filosóficos.
25.Tenha u arquivo de assuntos filosóficos.
26.Tenha um arquivo autores.
27.Saiba que cada autor tem seu “idioma filosófico”.
28.Leia sempre uma frase em vista do todo.
29.Encontre o âmago do texto.
30.Dialogue com o autor.
31.Escreva um texto em resposta ao autor.
32.Elabore uma síntese escrita do texto.
33.Tente “dizer” o texto em uma frase.
34.Converse com outras pessoas sobre o texto.
35.Aplique do texto em sua vida.
36.Procure “encadear” a leitura de textos… um puxa o outro.
37.Tenha seus próprios “textos seletos”.
38.Você seria capaz de escrever um texto reflexivo a partir da reflexão presente no texto?
39.(…devo ter esquecido alguma coisa… pode me ajudar?)
40.Mude de assunto… se ficar só falando neste autor você vai se tornar um chato.

domingo, 1 de novembro de 2009

A Graça de Deus na Criaçao, na Cultura, na sociedade e na economia

Ariovaldo Ramos
O terrível, num tema como esse, é escolher a abordagem: ou começar pela análise da criação, da cultura, da sociedade e da economia, num dado contexto, e delinear o que seria, nestes, ação da graça; ou optar por uma definição do que é graça, em cada tema, estabelecendo, assim uma possibilidade de detecção desta em cada qual, como um princípio de conduta.
Escolhi a Segunda.
Certa feita, ouvi Noé Stanley dizer, com muito bom humor , que teólogo latino americano não tem teses, tem "apuntes".
E eu, que nem teólogo sou, tenho apenas rabiscos, e é isso que ofereço aos irmãos, meros rabiscos, frutos de reflexão simples.
Que o Deus triúno possa fazer deles uso. Amém!
Ariovaldo RamosA graça de Deus na criação
"'Deus é infinitamente bom?, perguntávamos. 'Sim, infinitamente.' 'Ele sabe tudo que vai acontecer?' 'Sim...'respondia o padre, já desconfiado. 'Então, se ele sabe que fulano vai pecar e vai para o inferno, por que ele cria o cara?' Nenhum padre me respondeu essa questão atéia, até hoje." Arnaldo Jabor
Desprezando o conteúdo utilitário da questão – só criar o que me vai ser útil; o que não dará dor de cabeça – ela tem pertinência em si, principalmente quando nos deparamos com um mundo mal.
Se pudesse ser dito que Deus não sabia, e que está correndo atrás do prejuízo...mas. a onisciência lhe é inerente.
O problema, penso, não está apenas na criação, mas , também, na manutenção da mesma: como pode um Deus santo manter um mundo mal?
Teríamos, ademais, uma questão de lógica:
o apóstolo Paulo, segundo vejo, nos oferece um silogismo: premissa maior: "nele (Deus) vivemos, e nos movemos e existimos..." premissa menor: "todos se extraviaram..." conclusão: logo, todos desaparecemos, deixamos de existir.
Se Deus é nossa fonte, local e ambiente de existência e, se com ele rompemos, quando no Éden, como podemos continuar a existir? E se nossa queda trouxe maldição para o planeta (Gn 3.17), como pode este estar aí?
A criação de um mundo, que se tornou mal, assim como sua manutenção atentariam contra a onisciência de Deus; contra a sua santidade e contra a vontade e a lógica humanas.
"E no entanto, ela se move" Galileu Galilei
A criação e a sua manutenção exigiriam um fator exógeno como explicação. Esse fator teria de ser capaz de justificar um ato onisciente e de intermediar a relação entre a santidade e a maldade, tornando-a possível.
(Cl 1.15-17) Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.
Paulo parece remeter tudo para Jesus Cristo, o Deus filho encarnado.
Ao Deus filho encarnado, porque, o descreve como a imagem de Deus, portanto, creio, a partir da experiência que com ele tivemos: o Deus que nos fez ver Deus.
Cristo como a imagem de Deus...é a objetivação de Deus na vida humana, a 'projeção' de Deus na tela da nossa humanidade e a encarnação do divino no mundo dos homens (cf Masson, pg 98, n.1). A descrição é revelatória, mais do que ontológica. Ralph P. Martin
Entre todos os textos paulinos este é um dos que explicitamente afirmam a preexistência de Cristo: já existia antes da criação. E porque existia antes da criação, serviu de modelo para a criação toda. E não foi somente modelo, mas participou ativamente na criação. Não somente participou no passado, mas permanece princípio ativo para manter essa criação na existência, na unidade,
para organizá-la e conduzí-la a seu destino. José Comblin
Ao Deus filho encarnado, porque, o apresenta como primogênito, que, sugiro, é uma categoria soteriológica de Cristo, como em Rm 8.29 - "Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos." – uma vez que:
"Primogênito, longe de declarar que Cristo foi criado, salienta que Ele é o alvo de toda a criação com direito de primogenitura, i.e. 'herdeiro de todas as coisas'." Russell P. Shedd
Logo, o apóstolo o estaria delineando em seu mover redentor.
Por que toda a criação seria creditada ao Deus filho a partir do mistério da sua encarnação?
(1Pe 1:18-20) - sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo,
conhecido, com efeito, pré-estabelecido de fato – Henry Alford
antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós.
Pedro parece informar que o derramamento do sangue de Cristo foi préestabelecido antes da fundação do mundo. O que significaria que antes que todas as coisas fossem criadas, o Deus filho fez uma entrega, o seu próprio sangue.
(Ap 13:8) - e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.
"'Desde a fundação do mundo'. Em harmonia com 1 Pe 1.18-21, ensina-se que o Sacrifício de Cristo fez parte do propósito divino antes da fundação do mundo. Os decretos e propósitos de Deus são tão concretos e reais como o próprio acontecimento (At2.23; Ef 1.4)." Russell P. Shedd
Em assim sendo, o que aconteceu, imediatamente, antes da fundação do mundo foi o decreto do sacrifício do Deus filho, o que significaria que, previamente a toda a criação, o Deus filho se assumiu como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1:29)
Seria esse o fator exógeno que explicaria a criação de todas as coisas, assim como a sua manutenção?
De fato, tal decreto justificaria o ato onisciente, pois, denunciaria que o Deus triúno se responsabilizou pela redenção da criação, daí poder criar um ser livre, mesmo sabendo que a tal liberdade se voltaria contra o seu doador.
Só valeu a pena criar porque antes que a criatura se voltasse contra o criador, este sacrificou-se por ela, para a resgatar.
O decreto em questão, também, teria força suficiente para manter a existência, uma vez que tal sacrifício mediaria a relação de um Deus santo com uma criação rebelada.
Se assim for:
1-os cordeiros imolados no velho testamento não só apontavam para o futuro como para algo acontecido antes do tempo e, portanto, sempre presente, pois, ato na eternidade;
2-há uma verdade sobremodo assombrosa no verso todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. (Jo 1:3).
A Graça
Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. - (Jo 1:17)
Estaria João informando que, assim como a lei foi comunicada por Moisés, a graça e a verdade foram comunicadas por Jesus Cristo?
Se assim for, a graça seria a origem do sacrifício?
para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, - (Ef 1:6)
Paulo parece completar: a graça não apenas foi comunicada por meio de Cristo, a graça estava em Cristo.
Por que em Cristo?
Porque nele temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados...(Ef 1.7)
A graça estaria, portanto, vinculada ao sacrifício do cordeiro.
Poderíamos, então, dizer, que graça é o favor que o sacrifício de Cristo, instituído na eternidade e manifesto na história, tornou possível; por justificar o ato onisciente da criação e a manutenção de um mundo que se tornou mal, assim como o seu resgate.
Parafraseando Paulo: pela graça todas as coisas foram criadas, mantidas e tornadas passíveis de resgate; e isto é dom de Deus.
O que tais considerações deveriam despertar na Igreja?
Gostaria de sugerir algumas:
1-gratidão: fazei -o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Col 3:17)
2-nova perspectiva com relação ao sofrimento:
a- sofrimento já é efeito da graça em andamento, como um condenado à morte, que tem sua pena reduzida à prisão perpétua, num primeiro momento, e, mais tarde, é notificado que sua liberdade já foi providenciada, que, agora é só uma questãode tempo: ainda que com suor, obtêm-se o alimento – ainda que com dores, dá-se à luz filhos. E, mesmo o sofrimento vai ter fim. O que significaria que, se a postura frente ao sofrimento é de não murmuração, também, é de não conformismo. Penso que a reação deve ser de solidariedade; pois, mitigar o sofrimento humano é a obra de Deus. b- Deus reagiu à morte, devemos reagir, também, aliando-nos à graça. Lutando pela vida em todas as frentes. c- Desvinculação do sofrimento (enquanto estado cósmico) da questão da represália pelo pecado pessoal (ainda que o pecado traga consequências); é a morte, não o sofrimento que paga pelo pecado – e o cordeiro já a sofreu.
A graça de Deus na cultura
"Cultura é um jeito particular de ser gente" Rubem Alves
Se o prof. Rubem Alves está certo, para falar da graça de Deus teríamos de responder a antiga pergunta do salmista:
que é o homem, que dele te lembres? (Sl 8:4)
Voltemos ao início.
Gn 1:26, 27- Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; (...) Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
Esse texto marca uma mudança de ritmo e de forma na criação: até então Deus falava e tudo vinha à existência, na criação do homem temos, antecedendo-a, uma declaração de intenção e uma descrição.
Façamos o homem...
A teologia cristã entende que essa afirmação nos apresenta a Trindade, doutrina que afirma haver um só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, como declara G. W. Bromiley
Gosto de pensar nesse texto como uma declaração de intenção, é como se fosse o resultado de uma conferência entre as três Pessoas.
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;
Eis a descrição do projeto: o homem seria à imagem e semelhança de Deus, a Trindade.
O que significaria isto?
Segundo Derek Kidner, para alguns teólogos "imagem é a indelével constituição do homem como ser racional e como ser moralmente responsável, e a semelhança é aquela harmonia com a vontade de Deus, perdida com a queda". Ele, porém, diz que não há, no original, a partícula aditiva "e", de modo que os termos se reforçam (a palavra, então, seria imagem-semelhança). A imagem seria "expressão ou transcrição do Criador eterno e incorpóreo em termos de uma existência temporal, corpórea e própria de uma criatura – como se poderia tentar a transcrição, digamos, de um poema épico numa escultura, ou de uma sinfonia num soneto." O que, segundo Kidner , perdemos dessa imagem-semelhança, na queda, foi o amor, que recuperaremos quando for retomada nossa plena comunhão com o Senhor.
Algo, entretanto, penso que precisa ser considerado: se ser moralmente responsável e racional é ser imagem de Deus, então os anjos também não o seriam?
Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram (2 Pe 2:4)
Como os anjos poderiam pecar se não fossem moralmente livres; uma vez que pecar (pelo menos no ato primeiro) exige capacidade de escolha?
...reservando-os para juízo; (2 Pe 2:4)
Como qualquer ser pode ser julgado, se não for moralmente responsável?
Além do que, parece não haver dúvidas de que os anjos, também, são racionais, senão estariam impossibilitados de comunicar-se e de
arrazoar conosco, como fizeram, por exemplo, com Ló (Gn 19:10-22).
Se ser imagem-semelhança é ser transcrição do eterno em termos de existência temporais, os anjos, também, estão incluídos, pois, são criaturas e estão no tempo, pois, tiveram começo, ainda que o tempo, talvez, não lhes faça diferença. E, em ambos os casos, os anjos fiéis não perderam nada de sua criação original.
Entretanto, somente do homem é dito que foi criado à imagem e semelhança de Deus.
Gosto de pensar que esta imagem-semelhança inclui, além do já citado, algo que só é comum a Deus e a nós: a unidade.
"A última palavra hebraica da Shema (Dt 6.4,5) é echad, um substantivo coletivo, em outras palavras, um substantivo que demonstra unidade, ao mesmo tempo que se trata de uma unidade que contém várias entidades. Poderíamos citar um bom número de exemplos.(...) Em Nm 13.23 os espias pararam em Escol, onde 'cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas'. A palavra que aqui aparece com 'um', em 'um cacho', novamente é echad, no hebraico. Mas, como é evidente, esse único cacho de uvas consistia em muitas uvas." Stanley Rosenthal
E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus os criou; macho e fêmea os criou. Gn 1.27 (RC).
Seriam, realmente, duas criações?
Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente. (Gn 2:7) Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. (Gn 2:21,22)
Macho e fêmea parecem ser uma criação só, pois, o barro e o sopro (que dá vida ao ser humano) só aparecem uma vez. O segundo ser não é uma segunda criação, é uma duplicação. Sendo que, no segundo ser, Deus fez desabrochar características que não fizera desabrochar no primeiro.
Este é o livro da genealogia de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. (Gn 5:1,2)
Duas pessoas, um só nome. De fato, a mulher só ganhou o nome de Eva depois da queda: E deu o homem o nome de Eva a sua mulher, por ser a mãe de todos os seres humanos (Gn 3:20). E por que? Penso que só após a queda o macho teve autoridade para tal: e à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará (Gn 3:16). Se Deus condenou a mulher a essa condição subserviente ao homem como consequência da queda, é de se supor que antes não era assim, isto é, a relação entre ambos não era de autoridade; era, quero crer, de unidade.
O homem à imagem e semelhança de Deus, sugiro, é um ser coletivo. Quando Deus chamava: Adão! Macho e fêmea se voltavam para falar com Ele.
"Em Gn 2.24, Deus (...) instruiu marido e mulher a tornarem-se 'os dois uma só carne', indicando que aquelas duas pessoas unir-se iam, formando perfeita e harmônica unidade. Em tal caso, novamente a palavra hebraica é echad." Stanley Rosenthal
Se Deus é uma família, que criatura poderia expressar sua imagem-semelhança senão se constituísse, também, numa família?
Se Deus é uma unidade-comunhão como uma criatura que não se constituísse noutra unidade-comunhão poderia ser chamado de sua imagem-semelhança?
Me parece que o projeto divino passava estritamente pela unidade: criou um casal apenas, logo, uma só família; criou-os tendo a si como modelo: o que caracteriza a trindade é o amor, vínculo da perfeição, isto é, que une perfeitamente; logo, criou-os para, a exemplo da trindade, amarem-se com esse amor que unifica. Criou-os para viverem em unidade. Criou-os como unidade. Se não tivéssemos caído, seríamos bilhões, talvez, entretanto, à semelhança da trindade, nos amaríamos tanto que, apesar de muitos, seríamos um só homem: o homem à imagem e semelhança de Deus.
Não seria por aí o caminho de perceber a atuação da graça de Deus na cultura?
Gosto de pensar que a graça de Deus se manifesta nos elementos gregários de uma dada cultura.
Se é fato que o homem que Deus criou é comunitário, então, em todo o elemento cultural que leve o ser humano à consciência do outro; ao senso de pertencimento; à celebração comunitária; à solidadriedade; à justiça deverá, em alguma medida, ser fruto da graça de Deus – a graça que mantêm todas as coisas.
E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado(Gn 2:8).
Não é curioso que após ter comunicado à sua criatura a relação de domínio que teria sobre o planeta, Deus o coloque num jardim?
Parece-me que, ao fazer isto, Deus propõe um modelo. O domínio dar-se-ía não pela subjugação mas pela interação.
Uma vez que jardim manifesta harmonia e superação, pois a beleza é resultado de interação tal, que a beleza do todo é maior que a soma da beleza das unidades.
Dessa forma deveria ver-se como um maestro, cuja responsabilidade seria administrar de tal maneira seu "habitat", que o mesmo se tornasse qual jardim, onde impera a cooperação e a harmonia, o que faz com que cada unidade se supere pela associação com o todo.
Seria, portanto, em algum nível, ato da graça, quando, numa dada cultura, se privilegia a interação homem/natureza.
Sinais de Deus
"E, na verdade, cuidei que vós outros, Senhores, com todos os teólogos, não somente assegurais que a existência de Deus pode ser provada pela razão natural, mas também se infere da Santa Escritura que o seu conhecimento é muito mais claro o que se tem de muitas coisas criadas e que, com efeito, esse conhecimento é tão fácil que os que não o possuem são culpados. Como é patente nestas palavras da Sabedoria, capítulo 13, onde é dito que 'a ignorância deles não é perdoável: pois se seu espírito penetrou tão a fundo no conhecimento das coisas do mundo, como é possível que não tenham encontrado mais facilmente o Soberano Senhor dessas coisas?' E aos Romanos, capítulo primeiro, é dito que são indesculpáveis. E ainda no mesmo lugar, por estas palavras: 'o que é conhecido de Deus é manifesto neles', parece que somos advertidos de que tudo quanto se pode saber de Deus pode ser demonstrado por razões, as quais não é necessário buscar alhures que em nós mesmos, e as quais nosso espírito é capaz de nos fornecer." René Descartes
Descartes afirmava, julgando interpretar as escrituras, que Deus se deu a conhecer na natureza, bastando uma inspeção do espírito para captá-lo. Assim ele justificou suas "meditações".
Em que pese a ousadia de Descartes, seria de se esperar que um Deus gracioso deixasse marcas de sua presença.
Richardson conta mais 25 histórias fascinantes, que mostram que a semente do evangelho foi deixada por Deus em cada cultura do mundo. Ele chama este tipo de revelação geral de Deus, 'O Fator
Melquisedeque', usando o nome do sacerdote a quem Abraão prestou homenagem no livro de Gênesis. Os Editores
"Richardson argumenta que Deus deixou um testemunho profundo, que pode e deve ser aproveitado como ponto de contato pelo missionário." Richard J. Sturz
Creio que é esperado de um Deus que quer apresentar-se, que sua graça se manifeste em cada cultura, criando pontos de contato desta com o evangelho.
Tal ação da graça, creio, opera sensibilidade ao belo, à ternura, ao amor, à vida, assim como algum nível de revelação.
No que tais ponderações deveriam afetar a interação da igreja com as diversas culturas?
1- Na abordagem à cultura. Entendo que, sob tais prismas, a aproximação à cultura tem de partir de uma perspectiva positiva: a ação da graça na mesma. Numa busca, portanto, de pontos de contato. 2- Na contextualização. Nesses parâmetros, contextualização deixa de ser o uso sincrético de seus símbolos espirituais, para tornar-se o reforço do que há de divino na cultura em questão. 3- Ao invés do juízo, entra em ação a compreensão da cultura em sua complexidade. 4- Na co-beligerância. Uma vez compreendida a ação da graça no despertar da consciência de justiça, solidariedade, etc; a igreja deveria dispor-se a envolver-se em toda a causa pró emancipação do homem, tornando-se parceira dos que, pela graça divina, estão sendo despertados para mitigar o sofrimento humano. 5- Na responsabilidade ecológica. A Igreja deveria estar à frente da luta ecológica, no sentido de mitigar o sofrimento imposto à natureza. Seguindo o modelo do jardim.
A graça de Deus na sociedade e na economia
"porque se apresenta como um dever-ser, como o projeto histórico de Deus." Hirata
Falar, penso, nesse tema é falar do reino de Deus. O reino como utopia é a graça nos dando direção.
"Buscar o reino e a justiça de Deus, significa trabalhar para mover o mundo na direção das prioridades do reino" Howard Snyder
Parece-me que há três perguntas que humanidade faz: quem somos? Como administrar a riqueza? Como viver juntos?
O reino, creio, responde-as: de Deus e para Deus; solidariedade; fraternidade.
Tais respostas colidem com o sistema que, para respondê-las gerou um sem número de filosofias e religiões; um sem número de teses econômicas; um sem número de propostas de organização da sociedade.
A graça deu os princípios, caberia-nos dar-lhe concreção histórica.
"Assim sendo, o peso histórico do reino de Deus, que vem a ser a realidade mais inclusiva, elimina o papel platonizante que tinha a escatologia tradicional que podia dar-se ao luxo de condenar a história e a matéria como realidade inferior. Doravante, a escatologia, que era entendida antes como doutrina sobre o final dos tempos, terá uma relação necessária com a história. A recuperação do sentido histórico do reino de Deus resgata o caráter necessário da ação humana na construção desse reino." Samuel Silva Gotay
Daniel 2. 31-45, apresenta o reino como uma pedra solta por mãos não humanas que se choca com a estátua, destruindo-a de forma cabal.
Penso que estátua representa não só a sequência escatológica dos reinos, como, também, toda a tentativa humana de resolver o dilema da humanidade sem levar em conta a vontade e a realidade de Deus, e que o fato de aparecer como uma estátua revela o seu caráter idolátrico. O reino é a resposta de Deus ao citado dilema, que confronta e destrói a solução idólatra. Tal confronto, quero crer, concede necessária historicidade ao reino.
Na história da teologia da libertação, a obra coletiva – A luta dos deuses – é , sem dúvida, um marco importante no tratamento da idolatria como um tema central da teologia. Neste livro, Pablo Richard defendeu, a partir da afirmação de 'o capitalismo não é ateu, mas sim idólatra', a idéia de que 'o problema de Deus só pode ser racionalizado teologicamente a partir de uma perspectiva de confronto com o sistema religioso do capitalismo moderno'. Na introdução ao livro, a Equipe Dei afirmava que 'mais trágico que o ateísmo é o problema da fé e da esperança nos falsos deuses do sistema' e que a fé no Deus libertador 'passa necessariamente pela negação e a apostasia dos falsos deuses. A fé torna-se antiidolátrica.' Por isso concluíram a introdução dizendo que 'o problema dos ídolos da opressão e da busca do Deus libertador adquire hoje uma nova dimensão, tanto na tarefa evangelizadora como na tarefa política. É aí que a teologia da libertação encontra um de seus desafios mais fecundos.' Em outras palavras, a teologia numa sociedade capitalista
só adquire relevâcia histórica se se defrontar com a idolatria vivida no capitalismo." Jung Mo Sung
Gostaria de, como ilustração, apresentar um possível desenvolvimento dos princípios numa situação dada, no caso, nossa realidade nacional.
Jesus Cristo, segundo o registro de Mc 10.42-45"(blh), disse: "Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e os seus grandes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vocês deverá ser servo; e quem quiser tornar-se o primeiro deverá ser servo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos".
Jesus Cristo preconizou uma nova sociedade, cujo poder governamental seria exercido por meio do serviço a todos. Uma sociedade de cidadãos, onde todos seriam cidadãos, pois, só uma sociedade em que o governo assume a sua vocação de servo, de todos, é que a cidadania floresce.
Na sociedade do Cristo, o poder deveria ser exercido dessa forma para que a sociedade pudesse cumprir a sua vocação, qual seja: uma sociedade onde o uso da terra fosse regulamentado, tendo em vista o bem de todos, pois, como disse o profeta Isaías: Deus não admite que alguém possa comprar casa sobre casa e terra sobre terra até ser o único morador do lugar. Na sociedade do Cristo a terra teria de ser repartida entre todos, pois é para todos. Este tipo de coisa só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde a riqueza fosse distribuída com eqüidade, pois, como disse o apóstolo Paulo: Deus quer quem colheu demais não tenha sobrando, e o que colheu de menos não tenha faltando. Uma sociedade com consciência de coletividade. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde o trabalhador usufruísse da riqueza que produz, pois, como está escrito: o trabalhador é digno de seu salário e mais, não se pode amordaçar o boi que debulha o milho, isto é, aquele que produz deve ser o primeiro a usufruir do que produziu. Uma sociedade de trabalhadores para trabalhadores. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde a criança fosse prioridade, pois, Deus não quer que nenhum dos pequeninos se perca, e ameaça com duras penas a sociedade que desviar as crianças de sua vocação divina: vocação à saúde; à educação; à segurança; à longevidade; ao emprego – enfim uma vida que possa ser celebrada. O que só acontece quando o governo está a serviço de todos. uma sociedade onde os orfãos e as viúvas, isto é, os que tudo perderam, não ficasssem desamparados, pelo contrário, parte da produção seria destinada exclusivamente para estes, para que não
houvesse miséria na sociedade. Uma sociedade onde todos desfrutassem do direito à dignidade. Uma sociedade de cidadãos, pois, só onde há dignidade há cidadania. uma sociedade onde o idoso fosse referencial de sabedoria, nunca um fardo, pois, na bíblia, o idoso é o conselheiro que ajuda o jovem na sua caminhada e, por este é visto como um mentor, como alguém que é guardião dos valores que devem nortear a sociedade. Alguém que deve ser honrado, o cidadão por excelência, pois construiu e legou para as gerações que o sucedem.
Na sociedade preconizada por Cristo o conjunto de cidadãos é o estado. E todos são cidadãos. Por isso, o governo estaria a serviço de todos. E estar a serviço significaria que o governo estaria sob o controle da cidadania, E porque o governo estaria sob o controle, os direitos humanos seriam respeitados. E onde os direitos humanos são respeitados há previdência, isto é, o futuro do cidadão estaria assegurado, ou seja, o cidadão seria o beneficiário da riqueza que produziria. E mais, previdência seria um conceito que abrangeria não apenas a saúde ou a velhice, mas a escola, a segurança, o emprego, o lazer, enfim, tudo o que dá qualidade à vida. Nesta sociedade, o governo seria um agente previdenciário, e o futuro seria, não como algo que quanto mais remoto melhor, mas como uma sucessão de presentes, onde cada dia traria a garantia de um futuro assegurado.
No Brasil estamos com sérios problemas na questão da previdência e dos direitos humanos, porque o Brasil não é uma sociedade de cidadãos. Há cidadãos, mas são poucos, o resto é o povo.
Os cidadãos são os que detêm o poder econômico, são os que financiam a classe política, eles é que são representados, é a quem o governo serve. Para tais não há problema de previdência ou de respeito aos direitos humanos, pois, todos os seus direitos são respeitados.
Como já foi propalado, vivemos o "apartheid" no Brasil. De um lado os detentores do poder econômico, doutro lado o povo. Dizem aos membros do povo que eles, também, são cidadãos, porém, é uma inverdade, pois, o povo não tem direito ao voto, tem a obrigação do voto, e vota só para legitimar o que os poucos cidadãos já decidiram. O povo vota, mas, não veta, e quem não tem o poder de veto, de fato não exerceu o direito do voto, porque não tem como obrigar os eleitos a serem os representantes que deveriam ser, consequentemente nunca terá seus direitos respeitados. Quem respeita gente que só serve de massa de manobra? E mais, o voto do povo tem sido fruto de grandes campanhas de marketing, que o leva a sufragar alguém com quem não tem a mínima identificação, de quem nunca mais saberá nada, até que, através de outra campanha de marketing, seja chamado a legitimar os desejos da classe dominante.
Durante o mandato de seus pretensos representantes, uma vez que constitui a maioria da população, o povo terá de engolir falácias de todo o tipo, tais como: 1- A solução é a privatização. Solução do que ninguém explica. Solução para a saúde da empresa, certamente não é, pois, a solução para a saúde de qualquer empreendimento é a boa administração. 2- Todo subsídio é danoso, empresa estatal só pode cumprir o seu papel social com eficiência, se for lucrativo. Nunca é dito que empresas estatais, com estratégico papel social, não têm de ser eficientes, têm de ser eficazes, não é uma questão de fazer "certo" as coisas, mas, sim, de fazer as coisas certas, isto é, de cumprir o seu papel social. Por exemplo: o trabalhador não paga imposto para que a empresa municipal de transporte urbano dê lucro, mas para que possa ser transportado com dignidade. 3- Que o grande problema é a inflação. Nunca é o desemprego, a miséria, o analfabetismo, os baixos salários, a fome. E que para resolver este grande problema tem de haver mais desemprego, mais salários baixos, mais miséria e mais fome. O povo cede e problema nunca se resolve. Quando parece que agora vai...surge uma nova crise e mais sacrifício. 4- Que não há dinheiro para os programas sociais e, muito menos, para a previdência social. Que o fardo que a previdência carrega é por demais elevado. Mas como pode ser por demais elevado se o trabalhador apenas quer aquilo pelo que pagou, e sempre recebe muito menos? Por que não é dito que num órgão onde a corrupção caminha de mãos dadas com a impunidade não há dinheiro que cheque? Que o trabalhador paga, porém, a sonegação desvia o dinheiro e não há combate sério a esta? Que num país em que as grandes fortunas não são taxadas, em que o capital especulativo tampouco é devidamente taxado, assim como os lucros astronômicos das instituições financeiras, nunca haverá mesmo recursos para projetos sociais?
Que fazer diante disso? É preciso um milagre. Não o milagre sobrenatural, mas o milagre da conscientização, o milagre que abre os olhos. Cada trabalhador, cada marginalizado tem de se conscientizar de que povo é uma categoria que não existe, ou se é cidadão ou não se é nada. Cada um destes tem de se conscientizar de que para que os seus direitos sejam respeitados, para que o governo não lhe engane com falácias, ele tem de fazer-se cidadão, ou seja , tem de se ver como alguém a quem o governo tem de servir, tem de transformar a obrigação do voto no exercício do direito de votar, votar só naqueles sobre quem tem o poder de veto, e transformar isso em lei. A categoria povo tem de ser substituída pela categoria sociedade – sociedade de cidadãos. Sociedade onde a lei é para todos; que tem um projeto de estado – estado previdenciário. A recentíssima história tem nos feito ver, que onde a consciência de cidadania triunfa, as forças progressistas são sufragadas e, consequentemente, desaparece o povo e surge o cidadão e a sociedade. Que assim seja em Nome do Senhor Jesus Cristo.
A tarefa da Igreja é tornar-se instrumento da graça em toda a sua abrangência. Penso que, neste caso, ser agente da graça é ser postuladora e conscientizadora das políticas do Reino de Deus.
Creio que a Igreja Brasileira precisa deixar de apenas usufruir a graça para tornar-se propagadora da graça. Em cada um dos quesitos levantados há o que fazer se a igreja brasileira quiser, de fato, ser agente da graça em nosso território. Ariovaldo Ramos - Teólogo e Pastor da Igreja Cristã Reformada e Missionário da SEPAL.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Homenagem a papai - Quem não o conhecia?

Edson de Brito Nery - O Curinga.
por Claudia Nery em 04/08/2009
Para os que não o conheciam, se quisessem saber quem era, era só dar como referência aquele senhor que passeava com o cachorrinho branco, que acelerava o fusquinha pra lá e prá cá e que era torcedor fanático do Galo. Todo mundo o conhecia. Era figura popular no bairro, e com certeza um dos motivos de sua popularidade era sua simpatia.

Pois é Curinga! Estamos reunidos hoje aqui nesta igreja para rezar pelo senhor e homenageá-lo, e esta homenagem não poderia ser em outro lugar, pois foi nesta igreja que o Sr. foi batizado, casou-se, fez bodas de prata, e bodas de ouro.

Nós que somos da família e amigos nunca vamos esquecê-lo, e deixar de sentir saudades, mas algumas coisas com certeza farão lembrar do senhor e deixar nosso coração apertado .

Ficaremos com o coração apertado quando ouvirmos alguém cantando a música “ aos pés da santa cruz”, e não ouvirmos sua resposta, as vezes mal criada.

Sentiremos o nosso coração apertado quando acontecer um gol do Atlético e não ouvirmos o grito de Galooo, as vezes até nos dando susto.

Sentiremos o nosso coração apertado quando ouvirmos o som de uma trompa, instrumento musical que o senhor. tão bem sabia manejar.

Sentiremos o nosso coração apertado ao ver a beleza de uma orquestra e seu maestro..

Várias são as coisas que nos farão lembrá-lo e nos farão emocionar, porém nada nos deixará mais emocionados do que saber que não temos mais sua presença em nosso convívio.

Ao mesmo tempo alegra-nos saber que nossa memória está repleta de boas lembranças do senhor.

Desejamos que o senhor possa desfrutar das Glórias de Deus, e que seu descanso seja eterno.

É Seu Curinga, o senhor vai deixar muita saudade!

De sua família e amigos

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A historia do homem que queria ser jovem para sempre

(Extraído do blog da revista Ultimato - http://www.ultimato.com.br)
Publicado em ( EUAvisei) por Áquila Mazzinghy às 11:11Michael já não é mais. Embora seu corpo frio e sem vida esteja ainda na terra dos viventes, ele já não é mais. A mídia aqui nos EUA não fala em outra coisa. Se estou sabendo da situação política em Honduras, das bombas atômicas na Coreia do Norte ou da violência dos últimos dias na China, posso assegurar-lhes que não foi por meio da TV americana.

O curioso é que falam que a morte de Michael Jackson nos pegou “de surpresa”. A mim, pelo menos, não pegou. Não consigo ver um Michael senil, enrugado e de bengalas. Michael gostava de ver o jovem no espelho – como ele mesmo colocou em “The man in the mirror” –, mas não suportaria ver-se velho. Iria tentar de todas as formas esticar seu rosto, já deformado por inúmeras plásticas. Contudo, não resistiria novamente ao fio da navalha.
Michael quis ser jovem para sempre, assim como Peter Pan. Ergueu seu castelo em Neverland, a “terra do nunca”, e lá fez seu show. Se todas as crianças crescem, Peter Pan não. Michael também não quis crescer, e quando achava aquela vida sem graça e sem holofotes, corria todos os perigos, perdia todos os sentidos. Cazuza tinha razão… “vida louca, vida breve”. Michael dispensou as metáforas e tornou-se a própria metonímia; tornou-se thriller.

Se quem morre jovem são os bons, não sei. Contudo Michael “se cansou de tanta babaquice, tanta caretice”. Sua morte não é uma surpresa. Mesmo na terra do nunca a realidade às vezes se mostra. Michael agora está na terra do sempre, do eterno… tomara que não em companhia do Capitão Gancho.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Os instrumentos do filosofar - aula 1

Escola Estadual Coração Eucarístico
Ano de 2009 - Filosofia

1. Aprendendo a ler

Aprendendo a ler o mundo

"Hoje é o primeiro dia em que me sinto realmente em férias. E já é janeiro. Passou a correria da entrega de notas, reuniões de conselhos de classe, recuperação, fechamento dos diários de classe, seguida da outra correria, a preparação das festas de fim de ano: as compras, as visitas, a comida, o transito, o calor, a arvore a ser arrumada... Mas, hoje, finalmente em férias, posso começar a escrever outra vez.
Humm, estou sentindo um cheiro estranho. O que poderá ser? Nossa! Esqueci o feijão no fogo! Queimou. Lá se foi o meu almoço.
Tudo bem. Faço um sanduíche, mas começo a escrever este novo livro.
Ò ilusão! Agora ouço um barulho. Será a campainha? O barulho continua, sempre igual e nos mesmos intervalos de tempo. Ah! É o telefone. Já tocou umas dez vezes. Talvez seja algo importante. Será que aconteceu alguma coisa com as crianças e estão querendo me avisar? É melhor atender logo.
_ Alô! Bom dia, mãe... O quê? Tenho de ir aí pra ver o que está acontecendo? (Suspiro.) Ta bom, mãe. Já estou indo...
Pois é, acho que vou deixar para escrever amanhã".


  • Que acontecimentos invadiram o dia da autora?

  • Que significado ela atribuiu a cada um dos acontecimentos?

  • O que aconteceu com o projeto de escrever naquele dia?

  • Passamos do dia dando significados às coisas.

  • Ao ato de atribuir significados podemos dar o nome de leitura.

  • Para fazermos uma leitura do mundo é preciso estar atentos a tudo que acontece a nossa volta. (Usamos todos os nossos sentidos nessa leitura.)

  • Conceito de Texto em latim Tecido.

  • Exemplos de texto: pintura, filme, imagens na televisão.

  • A tarefa de leitura depende da vivencia de cada leitor.

    "Todos nós alfabetizados ou não precisamos aprender observar o mundo ao nosso redor, aprender a estar constantemente indagando: O que isto significa? O que isto quer dizer? È no momento que nos colocamos essas questões que estamos aprendendo a ler".

    Bibliografia:

    Arruda, Maria Lucia Arruda Aranha e Martins, Maria Helena Pires Martins: Temas de Filosofia, Editora Moderna, 2ª. Edição, 1998.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Teologia negra hoje

Gercymar Wellington Lima e Silva

A afirmação étnica do negro no Brasil precipita uma reflexão ainda muito contida sobre as culturas africana e afro-brasileira no meio religioso cristão-evangélico-protestante. Há uma quase omissão do protestantismo brasileiro em debater a temática da negritude e sua participação na formação e na história da igreja evangélica no Brasil. A afirmação étnica do negro exige o espaço devido aos seus representantes.
A igualdade entre as raças e o convívio com as diferenças não é só uma discussão étnica. De modo semelhante, as políticas de ação afirmativa não são apenas demandas que estão na moda. Seria simplismo olhar as coisas por esse prisma! O crescimento e a adoção de políticas de ação afirmativa nos últimos anos são visíveis, embora haja segmentos da sociedade que se opõem ou se omitem a tal ação.
A Igreja Metodista ainda não incluiu claramente em sua agenda a reflexão do papel do negro e sua contribuição, mesmo tendo uma pastoral de combate ao racismo. Há muito, o negro brasileiro forja seu espaço e sua participação em diversos âmbitos da cultura: culinária, cosmética, música, literatura, religião, artesanato, línguas, ciências, artes, mitos etc.
A liturgia, por exemplo, vale-se da música, imprescindível na celebração. Porém, o que seria da música sem a variedade de ritmos? Haroldo Costa, em artigo na “Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, diz que “a senzala foi o ambiente onde a música e os ritmos de origem africana se desenvolveram, e amplificaram a sua influência na casa grande”.
Hoje, a música africana ganha uma expressão afetiva incontestável, seja no meio secular ou no meio religioso. Avalia-se que o campo religioso brasileiro está em plena articulação com a emergência da afirmação étnica dos negros no Brasil. A propósito, “o candomblé, um dos símbolos de referência imediata da negritude brasileira, cresce como se acompanhasse a emergência da identidade afrodescendente e o ganho espaço-social que esses indivíduos vem ocupando na sociedade inclusiva”. [1]
A sanção da lei 10.639, que obriga o ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira no Ensino Fundamental e Médio”, representa uma conquista singular da população negra ao lado do movimento negro. A iniciativa age sobre o sistema educacional com grande impacto, fazendo a sociedade discutir amplamente a temática. A questão desperta interesses de ordem política, econômica, social, histórica, cultural e religiosa.
Ao procurar se ajustar a essa iniciativa, o sistema educacional agrega uma discussão que envolve entusiastas e críticos -- o que faz fervilhar a opinião pública. A lei tem uma história que se confunde com a emergência do Movimento Negro dos últimos trinta anos. É possível que “os desafios para a implementação [da lei] são da mesma ordem dos que se antepõem ao avanço da luta contra o racismo”. [2]
A essa altura, a questão fundamental está mais do que evidente: Qual é, ou qual será a contribuição do protestantismo para a afirmação do negro no Brasil? Essa questão pode ser elaborada de uma forma mais criativa e/ou acadêmica: Qual é a cor e qual é o gosto das lideranças evangélicas em discutir a questão da afirmação do negro no Brasil? É por isso que a igualdade entre as raças e o convívio com as diferenças não é só uma discussão étnica; é política, social, cultural e religiosa. A discussão é um problema da nervura da sociedade brasileira.
O Fórum de Lideranças Negras Evangélicas, realizado recentemente, encaminhou um manifesto ao 2º Congresso Brasileiro de Evangelização pedindo um basta à omissão e ao silêncio da Igreja Evangélica a respeito da problemática do negro no país. A matéria, intitulada “Afrodescendentes evangélicos querem quebrar o silêncio das igrejas”, ganhou repercussão ao discutir missão integral. O manifesto diz que a igreja evangélica brasileira “só poderá viver verdadeiramente a sua missão integral se contemplar a questão do afrodescendente. Temos a convicção de que estamos vivendo tempos da manifestação de Deus entre nós e entendemos que os cristãos foram postos no mundo para ser consciência da sociedade, diz o manifesto”. [3]
Nessa reunião, foi evidente a presença de negros e negras metodistas, batistas, anglicanos, católicos, das igrejas Deus em Cristo e O Brasil para Cristo. O Fórum considerou que a luta do protestantismo histórico e de missão em prol de condenar a escravidão negra foi, no mínimo, apática. As missões protestantes encetaram a sua propaganda missionária priorizando a elite brasileira, estabelecendo igrejas e educandários distantes das classes exploradas e escravizadas. As missões só se manifestaram a favor da abolição quando o país inteiro estava convencido de seu fim.
Constata-se, entretanto, uma “perpetuação de práticas pedagógicas racistas”, cujos valores são os das classes dominantes, que tolhem a maioria de exercer sua cidadania plena. Além de ser minoria no poder, essa maioria é destituída, explorada e oprimida historicamente -- a maioria negra. Janete Pietá, deputada federal pelo Estado de São Paulo, diz ter tomado consciência da questão racial (e se tornado militante e ativista dos direitos negros) quando foi morar em São Paulo, e não conseguiu alugar uma casa por causa da cor da pele.
Apesar de reconhecer que as desigualdades afetam a população negra, a igreja evangélica brasileira vivencia mobilizações consideradas isoladas, que representam pequenos guetos de reflexão e/ou de ação afirmativa da negritude. Histórica e culturalmente, é vigente a imagem de que a pessoa negra não é inteligente ou capaz de exercer funções específicas, como de chefia e direção, freqüentemente ocupadas por pessoas brancas. A discriminação é maior ainda quando se trata da mulher negra. É fundamental que as idéias veiculadas pela mídia, especialmente em torno da beleza negra, sejam corrigidas. A propósito, “negro não é só lindo, é capaz, é competente”.
• Gercymar Wellington Lima e Silva é pastor metodista e especialista em estudos wesleyanos (Umesp e Unimep-SP). gercymar@gmail.com
Notas[1] Cf. Aislan Vieira de Melo, “Religião e afirmação étnica no Brasil contemporâneo: notas sobre a conversão no campo religioso”. Disponível em: www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/aislan_vieira_de_melo.htm. [2] Cf. Amauri Mendes Pereira, “História e Cultura Afro-Brasileira: parâmetros e desafios”. Disponível em: www.espacoacademico.com.br/036/36epereira.htm. Amauri atenta para prodigalidade de nosso país no que tange a efetividade das leis, propondo reflexões sobre três desafios: o político, o acadêmico e o da práxis. Conforme palavras do autor, “Temos, porém, o direito e o dever de estarmos atentos. Nosso país é pródigo em leis que não pegam. Ainda mais, com “temática tão problemática” -- pelo menos para os que não viam problemas (muitos não viam mesmo!) com os nossos currículos, livros e procedimentos didáticos racializados e euronorteamericanocentrados”. [3] Disponível em: www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/11/267808.shtml.
(Texto da revista Ultimato Online)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Jesus e a Politica - Frei Betto

"Não há nada mais político do que dizer que a religião nada tem a ver com a política"Desmond Tutubispo sul-africano e prêmio Nobel da Paz
Na América Latina, não se pode separar fé e política, assim como não seria possível fazê-lo na Palestina do século I. Na terra de Jesus, quem detinha o poder político, detinha também o poder religioso. E vice-versa. Talvez soasse estranho, hoje, a certos ouvidos religiosos introduzir a leitura do Evangelho falando de Clinton e Nelson Mandela, Felipe Gonzaléz e François Mitterand. No entanto, ao introduzir-nos nos relatos da prática de Jesus, Lucas primeiro nos situa no contexto político, informando que "já fazia quinze anos que Tibério era imperador romano. Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes governava a Galiléia e seu irmão Felipe, a região da Ituréia e Traconites. Lisânias era governador de Abilene. Anás e Caifás eram os presidentes dos sacerdotes" (3, 1-2).
Foi sob o símbolo da cruz que a colonização ibérica na América Latina promoveu o genocídio de 30 milhões de indígenas e o saque das riquezas naturais. Sob a silenciosa cumplicidade da Igreja católica, mais de 10 milhões de negros foram trazidos da África, como escravos, para o nosso continente. Com a conivência das Igrejas cristãs, instalou-se em nossos países o sistema burguês de dominação capitalista. Portanto, não se trata de vincular fé e política somente quando se refere ao atual processo eleitoral.
O fato de que fé e política estejam sempre vinculados em nossas vidas concretas, como seres sociais que somos - ou animais políticos , na expressão de Aristóteles - não deve constituir uma novidade senão para aqueles que se deixam iludir por uma leitura fundamentalista da Bíblia, que pretende desencarnar o que Deus quis encarnado. A fé é um dom do Pai a nós que vivemos neste mundo. No Céu, nossa fé será vã, pois veremos a Deus face a face. Portanto, a fé é um dom politicamente encarnado, que tem razão de ser nesta conflitividade histórica, na qual somos chamados, pela graça, a distinguir o projeto salvífico de Deus.
Nem mesmo em Jesus é possível ignorar a íntima relação entre fé e política, ainda que, para alguns cristãos, pareça estranho aplicar certas categorias Àquele que nos assegura, por sua ressurreição, a vitória, em última instância, da vida sobre a morte e da justiça sobre a injustiça. Que Jesus tinha fé o sabemos pelos textos que falam dos longos momentos que ele passava em oração (Lucas 4, 16; 5, 16; 6, 12). Ora, só quem necessita aprofundar sua fé entrega-se ao encontro orante com o Pai. A oração é para a fé o que o adubo é para a terra ou o gesto de carinho para o casal que se ama. O Evangelho nos fala até mesmo das crises de fé de Jesus, como as tentações no deserto (Mateus 4, 1-11; Marcos 1, 12-13; Lucas 4, 1-13) e o abandono que ele sentiu na agonia no horto das oliveiras (Mateus 26, 36-46; Marcos 14, 32-42; Lucas 22, 39-46).
Há quem insista que Jesus se restringiu a comunicar-nos uma mensagem religiosa que nada tem de política ou ideológica. Tal leitura só é possível se reduzimos a exegese bíblica à pescaria de versículos, arrancando os textos de seus contextos. Não é só o texto que revela a Palavra de Deus, mas também o contexto social, político, econômico e ideológico, no qual se desenrola a prática evangelizadora de Jesus. Todos nós, cristãos, somos inelutavelmente discípulos de um prisioneiro político. Mesmo que na consciência de Jesus houvesse apenas motivações religiosas, sua aliança com os oprimidos, seu projeto de vida para todos (João 10, 10), tiveram objetivas implicações políticas. Por isso ele não morreu na cama, mas na cruz, condenado à pena de morte. Já na introdução de seu evangelho, Marcos mostra como as curas operadas por Jesus - o homem de espírito mau, a sogra de Pedro, os possessos, o leproso, o paralítico, o homem de mão aleijada - desestabilizaram de tal modo o sistema ideológico e os interesses políticos vigentes, que levaram dois partidos inimigos - o dos fariseus e o dos herodianos - a fazerem aliança para conspirar em torno de "planos para matar Jesus" (3, 6). Assim, vê-se que as implicações políticas da ação salvífica de Jesus tornaram-se tão graves e ameaçadoras, que induziram Caifás, em nome do Sinédrio, a expressar que era "melhor que morra apenas um homem pelo povo do que deixar que o país todo seja destruído" (João 11, 50).
E como situar, no contexto da Palestina do século I, a questão ideológica? Lucas registra que "Jesus crescia tanto no corpo como em sabedoria" (2, 52). Era pois um homem de seu tempo e que, segundo Paulo, "pela sua própria vontade abandonou tudo o que tinha e tomou a natureza de servo e se tornou semelhante ao homem" (Filipenses 2, 7). A divindade de Jesus não transparecia por uma consciência que pudesse emergir completamente de seu contexto cultural e sobrepairar, onisciente, acima do tempo e do espaço. Tal possibilidade adequa-se à imagem grega de deus e não à imagem bíblica. Jesus era Deus encarnado e possuía a mesma natureza do Pai. Ora, para o Novo Testamento, "Deus é amor. Quem vive no amor vive em união com Deus e Deus vive em união com ele" (1 João 4, 16). Portanto, Jesus era Deus porque amava assim como só Deus ama. E nisto consiste a nossa imagem e semelhança com Deus: é divina a natureza de todo amor de que somos capazes. E o somos como abertura a Deus, que nos habita mais profundamente do que o nosso próprio eu, e nos faz acolher o próximo. No entanto, nossa consciência, como a de Jesus, permanece tributária de nosso lugar social e de nosso tempo histórico. Em Jesus, Deus acolhe preferencialmente os oprimidos, em cujo lugar social se encarna e a partir do qual anuncia a universalidade de sua mensagem de salvação. Não há pois neutralidade. Jesus assume a ótica e o espaço vital dos pobres. Seu ponto de vista é a vista situada a partir de um ponto, o da Promessa que ressoa como bem-aventurança aos que injustamente foram privados da plenitude da vida.
Há também em Jesus um vínculo profundo entre sua fé e a ideologia apocalíptica, que o fez esperar com tanta expectativa a eclosão do Reino de Deus ainda para a sua geração (Marcos 9, 1). Muitos exegetas estão de acordo que a crise maior de Jesus foi constatar que não haveria coincidência entre seu tempo pessoal e seu projeto histórico. O Reino, que se antecipou em sua vida e ressurreição, exigiria a Igreja como sacramento histórico capaz de anunciá-lo, testemunhá-lo e prepará-lo na acolhida do dom de Deus.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Patrística
A patrística procurou conciliar as verdades da revelação bíblica com as construções do pensamento próprias da filosofia grega. A maior parte de suas obras foi escrita em grego e latim, embora haja também muitos escritos doutrinários em aramaico e outras línguas orientais.
Patrística é o corpo doutrinário que se constituiu com a colaboração dos primeiros padres da igreja, veiculado em toda a literatura cristã produzida entre os séculos II e VIII, exceto o Novo Testamento.
Histórico. O conteúdo do Evangelho, no qual se apoiava a fé cristã nos primórdios do cristianismo, era um saber de salvação, revelado, não sustentado por uma filosofia. Na luta contra o paganismo greco-romano e contra as heresias surgidas entre os próprios cristãos, no entanto, os padres da igreja se viram compelidos a recorrer ao instrumento de seus adversários, ou seja, o pensamento racional, nos moldes da filosofia grega clássica, e por meio dele procuraram dar consistência lógica à doutrina cristã.
O cristianismo romano atribuía importância maior à fé; mas entre os padres da igreja oriental, cujo centro era a Grécia, o papel desempenhado pela razão filosófica era muito mais amplo e profundo. Os primeiros escritos patrísticos falavam de martírios, como A paixão de Perpétua e Felicidade, escrito em Cartago por volta de 202, durante o período em que sua autora, a nobre Perpétua, aguardava execução por se recusar a renegar a fé cristã. Nos séculos II e III surgiram muitos relatos apócrifos que romantizavam a vida de Cristo e os feitos dos apóstolos.
Em meados do século II, os cristãos passaram a escrever para justificar sua obediência ao Império Romano e combater as idéias gnósticas, que consideravam heréticas. Os principais autores desse período foram são Justino mártir, professor cristão condenado à morte em Roma por volta do ano 165; Taciano, inimigo da filosofia; Atenágoras; e Teófilo de Antioquia. Entre os gnósticos, destacaram-se Marcião, que rejeitava o judaísmo e considerava antitéticos o Antigo e o Novo Testamento.
No século III floresceram Orígenes, que elaborou o primeiro tratado coerente sobre as principais doutrinas da teologia cristã e escreveu Contra Celsum e Sobre os princípios; Clemente de Alexandria, que em sua Stromata expôs a tese segundo a qual a filosofia era boa porque consentida por Deus; e Tertuliano de Cartago. A partir do Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, o cristianismo deixou de ser a crença de uma minoria perseguida para se transformar em religião oficial do Império Romano. Nesse período, o principal autor foi Eusébio de Cesaréia. Dentre os últimos padres gregos destacaram-se, no século IV, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissa e João Damasceno.
Os maiores nomes da patrística latina foram santo Ambrósio, são Jerônimo (tradutor da Bíblia para o latim) e santo Agostinho, este considerado o mais importante filósofo em toda a patrística. Além de sistematizar as doutrinas fundamentais do cristianismo, desenvolveu as teses que constituíram a base da filosofia cristã durante muitos séculos. Os principais temas que abordou foram as relações entre a fé e a razão, a natureza do conhecimento, o conceito de Deus e da criação do mundo, a questão do mal e a filosofia da história.
Escolástica
Com a Idade Média e as invasões bárbaras, a filosofia cristã centrou-se no ensino e na manutenção do legado clássico nas escolas monacais. A cultura, representada especialmente pelos livros, refugiou-se nos mosteiros e conventos, motivo pelo qual costuma-se dizer que a igreja, sobretudo pela ação de seus monges copistas, salvou a cultura e acabou por absorver os bárbaros da mesma maneira que Roma absorvera culturalmente a Grécia.
Entende-se em geral por escolástica o ensino teológico-filosófico da doutrina aristotélico-tomista ministrado nas escolas de conventos e catedrais e também nas universidades européias da Idade Média e do Renascimento. Como sistema filosófico e teológico, a escolástica tentou resolver, a partir do dogma religioso e mediante um método especulativo, problemas como a relação entre fé e razão, desejo e pensamento; a oposição entre realismo e nominalismo; e a probabilidade da existência de Deus.
A noção de filosofia cristã, embora constantemente empregada, a rigor representa uma contradição em termos, pois o cristianismo é religião e a filosofia é conhecimento racional. Historicamente, porém, a escolástica consiste nesse paradoxo de uma filosofia que é, ao mesmo tempo, racional e religiosa, motivo pelo qual seu problema mais grave é o das relações entre a razão e a fé. Que liberdade terá a razão, se o dogma limita a priori seus movimentos? Há, entretanto, um conteúdo filosófico na obra dos doutores da igreja e dos escolásticos levado em conta na história da filosofia. Esse conteúdo encontra sua última justificativa na doutrina da igreja. O pensamento devia demonstrar que a igreja, por seu método próprio, já havia estabelecido a Verdade.
Surgindo em um mundo cristão, seus pressupostos eram as crenças básicas em que o mundo então se fundamentava, radicalmente distintas das que configuravam o mundo antigo, greco-romano. Os problemas que se apresentavam à filosofia eram suscitados pela Revelação. A idéia de Deus, uno e trino ao mesmo tempo, da criação do mundo a partir do nada, da imortalidade pessoal, do homem à imagem e semelhança de Deus, a noção de história, implícita no relato bíblico, criação, pecado original, redenção e juízo final são idéias religiosas que provocavam especulação tipicamente metafísica ou filosófica.
Filosofia cristã. A filosofia dita cristã compreende a escolástica mas não se confunde com ela e apresenta três fases: a patrística; a medieval, que é escolástica; e a escolástica pós-medieval. A patrística é a filosofia dos primeiros doutores da igreja, que, em luta com o paganismo e as heresias, se utilizaram da filosofia grega, especialmente do platonismo e do neoplatonismo, na formulação, elucidação e defesa do dogma. No mundo moderno romano, até a conversão de Constantino, no século IV, os cristãos representavam a oposição, com a negação do status quo, do politeísmo tradicional e da escravidão. Perseguidos e martirizados, eram compelidos, no trabalho de catequese, a fazer do pensamento uma arma de defesa e propagação da fé. Embora contenha elementos filosóficos, a patrística é essencialmente apologética, sendo a primeira reflexão sobre o dogma em um mundo ainda não cristão.
Na Idade Média, a situação histórica se alterou radicalmente, pois o mundo no qual pensavam os cristãos era um mundo cristão, quer dizer, determinado pelo cristianismo na totalidade de suas manifestações. Havia uma crença vigente, ponto de referência para o pensamento e critério da verdade. As divergências ocorriam num mesmo contexto espiritual e não punham em dúvida o fundamento desse mundo, o conteúdo da revelação, o dogma. As exigências que se apresentavam aos filósofos cristãos já não eram as mesmas, pois o pressuposto de que partiam não era o paganismo, mas o próprio cristianismo. Tratava-se então de pensar em um mundo convertido, configurado em função das crenças e dos valores cristãos. A filosofia pôde, assim, deixar de ser apologética, para tornar-se docente, magistral ou escolástica.
Ensino cristão. Após o longo interregno que se seguiu à morte de santo Agostinho, no ano 430, o chamado renascimento carolíngio assinalou o advento de nova época na história do pensamento cristão. As capitulares do ano 787 recomendavam, em todo o império, a restauração das antigas escolas e a fundação de novas. As que então se inauguraram podiam ser monacais, junto aos mosteiros, interiores para religiosos, exteriores para leigos; as catedrais, junto à sede dos bispados, umas para clérigos e outras para seculares; e as palatinas, junto às cortes, religiosas, mas abertas a clérigos e leigos.
O programa de ensino compreendia as artes chamadas liberais, que se desdobravam em trivium (gramática, retórica e dialética) e quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). A escola, assim como a corporação, era uma comunidade de trabalho, que funcionava em estreita colaboração com a igreja, o que lhe assegurava organização estável e continuidade de pensamento. A escolástica tornou-se, assim, um patrimônio comum, um saber tradicional, que se transmitia e enriquecia de geração em geração.
O ensino era, em geral, ministrado na forma de leitura, lectio, e comentário dos textos. Além das Sagradas Escrituras, entre os livros mais estudados estavam o Organon, de Aristóteles, traduzido em parte, o Timeu, de Platão, os comentários de Porfírio e Boécio às obras desses filósofos, as obras de Cícero e de Sêneca; e os textos dos Padres: Orígenes, Clemente de Alexandria, santo Ambrósio, Pedro Lombardo e, de modo especial, santo Agostinho, que, até o século XIII, dominou o pensamento medieval. À simples leitura comentada dos textos, acrescentou-se, com o tempo, a discussão, questio, e a elaboração de trabalhos e composições pessoais.
Tal modalidade de prática docente suscitou diversos gêneros literários, característicos da escolástica: os commentaria (comentários), exegese dos textos; as quaestiones (questões), que incluíam as quaestiones disputatae (questões discutidas) e as quaestiones quodlibetales (questões abertas), compilação de debates, registrando os argumentos apresentados e as soluções encontradas; os trabalhos individuais, dissertações e monografias, opuscula (opúsculos); e finalmente, as grandes sínteses, que procuravam sistematizar a totalidade do saber, as summae (sumas), teológicas e filosóficas, entre as quais devem ser mencionadas, por sua excepcional importância, a Summa Theologica e a Summa contra gentiles (Suma contra os pagãos), de santo Tomás de Aquino.
Evolução histórica. Às etapas da evolução da filosofia no interior do cristianismo correspondem, historicamente, as fases: de formação, do século IX ao XII; de apogeu, no século XIII; e decadência, do século XIV ao XVII, da filosofia escolástica. Da submissão à fé, representada esta pela igreja, instância heterônoma em face da razão e da posição de compromisso, a filosofia evoluiu, acompanhando a desintegração do feudalismo e o advento do mundo burguês, até alcançar, com Descartes e o idealismo alemão, sua plena autonomia.
A história da escolástica apresenta-se, assim, como a história da razão humana em determinado momento de sua evolução, exprimindo inicialmente a alienação, na sujeição ao dogma; em seguida, a consciência da alienação, na doutrina das duas verdades; e finalmente a negação da alienação (da negação), na ruptura definitiva entre razão e fé, e na afirmação de que o real, em sua totalidade, natureza e história, é racional.
A decadência da escolástica, a partir do século XIII, exacerbou seus caracteres formais. Desde que, com Guilherme de Ockham, as verdades da fé são consideradas inacessíveis à razão, a filosofia, que procura compreender e explicar essas verdades, converteu-se numa discussão de textos e temas que perderam vigência histórica. O ensino fez emprego abusivo do silogismo, no verbalismo das fórmulas abstratas. A complacência no debate e o dogmatismo levaram a que a palavra escolástica passasse a ter conotação pejorativa.
Escolástica
Com a Idade Média e as invasões bárbaras, a filosofia cristã centrou-se no ensino e na manutenção do legado clássico nas escolas monacais. A cultura, representada especialmente pelos livros, refugiou-se nos mosteiros e conventos, motivo pelo qual costuma-se dizer que a igreja, sobretudo pela ação de seus monges copistas, salvou a cultura e acabou por absorver os bárbaros da mesma maneira que Roma absorvera culturalmente a Grécia.
Entende-se em geral por escolástica o ensino teológico-filosófico da doutrina aristotélico-tomista ministrado nas escolas de conventos e catedrais e também nas universidades européias da Idade Média e do Renascimento. Como sistema filosófico e teológico, a escolástica tentou resolver, a partir do dogma religioso e mediante um método especulativo, problemas como a relação entre fé e razão, desejo e pensamento; a oposição entre realismo e nominalismo; e a probabilidade da existência de Deus.
A noção de filosofia cristã, embora constantemente empregada, a rigor representa uma contradição em termos, pois o cristianismo é religião e a filosofia é conhecimento racional. Historicamente, porém, a escolástica consiste nesse paradoxo de uma filosofia que é, ao mesmo tempo, racional e religiosa, motivo pelo qual seu problema mais grave é o das relações entre a razão e a fé. Que liberdade terá a razão, se o dogma limita a priori seus movimentos? Há, entretanto, um conteúdo filosófico na obra dos doutores da igreja e dos escolásticos levado em conta na história da filosofia. Esse conteúdo encontra sua última justificativa na doutrina da igreja. O pensamento devia demonstrar que a igreja, por seu método próprio, já havia estabelecido a Verdade.
Surgindo em um mundo cristão, seus pressupostos eram as crenças básicas em que o mundo então se fundamentava, radicalmente distintas das que configuravam o mundo antigo, greco-romano. Os problemas que se apresentavam à filosofia eram suscitados pela Revelação. A idéia de Deus, uno e trino ao mesmo tempo, da criação do mundo a partir do nada, da imortalidade pessoal, do homem à imagem e semelhança de Deus, a noção de história, implícita no relato bíblico, criação, pecado original, redenção e juízo final são idéias religiosas que provocavam especulação tipicamente metafísica ou filosófica.
Filosofia cristã. A filosofia dita cristã compreende a escolástica mas não se confunde com ela e apresenta três fases: a patrística; a medieval, que é escolástica; e a escolástica pós-medieval. A patrística é a filosofia dos primeiros doutores da igreja, que, em luta com o paganismo e as heresias, se utilizaram da filosofia grega, especialmente do platonismo e do neoplatonismo, na formulação, elucidação e defesa do dogma. No mundo moderno romano, até a conversão de Constantino, no século IV, os cristãos representavam a oposição, com a negação do status quo, do politeísmo tradicional e da escravidão. Perseguidos e martirizados, eram compelidos, no trabalho de catequese, a fazer do pensamento uma arma de defesa e propagação da fé. Embora contenha elementos filosóficos, a patrística é essencialmente apologética, sendo a primeira reflexão sobre o dogma em um mundo ainda não cristão.
Na Idade Média, a situação histórica se alterou radicalmente, pois o mundo no qual pensavam os cristãos era um mundo cristão, quer dizer, determinado pelo cristianismo na totalidade de suas manifestações. Havia uma crença vigente, ponto de referência para o pensamento e critério da verdade. As divergências ocorriam num mesmo contexto espiritual e não punham em dúvida o fundamento desse mundo, o conteúdo da revelação, o dogma. As exigências que se apresentavam aos filósofos cristãos já não eram as mesmas, pois o pressuposto de que partiam não era o paganismo, mas o próprio cristianismo. Tratava-se então de pensar em um mundo convertido, configurado em função das crenças e dos valores cristãos. A filosofia pôde, assim, deixar de ser apologética, para tornar-se docente, magistral ou escolástica.
Ensino cristão. Após o longo interregno que se seguiu à morte de santo Agostinho, no ano 430, o chamado renascimento carolíngio assinalou o advento de nova época na história do pensamento cristão. As capitulares do ano 787 recomendavam, em todo o império, a restauração das antigas escolas e a fundação de novas. As que então se inauguraram podiam ser monacais, junto aos mosteiros, interiores para religiosos, exteriores para leigos; as catedrais, junto à sede dos bispados, umas para clérigos e outras para seculares; e as palatinas, junto às cortes, religiosas, mas abertas a clérigos e leigos.
O programa de ensino compreendia as artes chamadas liberais, que se desdobravam em trivium (gramática, retórica e dialética) e quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). A escola, assim como a corporação, era uma comunidade de trabalho, que funcionava em estreita colaboração com a igreja, o que lhe assegurava organização estável e continuidade de pensamento. A escolástica tornou-se, assim, um patrimônio comum, um saber tradicional, que se transmitia e enriquecia de geração em geração.
O ensino era, em geral, ministrado na forma de leitura, lectio, e comentário dos textos. Além das Sagradas Escrituras, entre os livros mais estudados estavam o Organon, de Aristóteles, traduzido em parte, o Timeu, de Platão, os comentários de Porfírio e Boécio às obras desses filósofos, as obras de Cícero e de Sêneca; e os textos dos Padres: Orígenes, Clemente de Alexandria, santo Ambrósio, Pedro Lombardo e, de modo especial, santo Agostinho, que, até o século XIII, dominou o pensamento medieval. À simples leitura comentada dos textos, acrescentou-se, com o tempo, a discussão, questio, e a elaboração de trabalhos e composições pessoais.
Tal modalidade de prática docente suscitou diversos gêneros literários, característicos da escolástica: os commentaria (comentários), exegese dos textos; as quaestiones (questões), que incluíam as quaestiones disputatae (questões discutidas) e as quaestiones quodlibetales (questões abertas), compilação de debates, registrando os argumentos apresentados e as soluções encontradas; os trabalhos individuais, dissertações e monografias, opuscula (opúsculos); e finalmente, as grandes sínteses, que procuravam sistematizar a totalidade do saber, as summae (sumas), teológicas e filosóficas, entre as quais devem ser mencionadas, por sua excepcional importância, a Summa Theologica e a Summa contra gentiles (Suma contra os pagãos), de santo Tomás de Aquino.
Evolução histórica. Às etapas da evolução da filosofia no interior do cristianismo correspondem, historicamente, as fases: de formação, do século IX ao XII; de apogeu, no século XIII; e decadência, do século XIV ao XVII, da filosofia escolástica. Da submissão à fé, representada esta pela igreja, instância heterônoma em face da razão e da posição de compromisso, a filosofia evoluiu, acompanhando a desintegração do feudalismo e o advento do mundo burguês, até alcançar, com Descartes e o idealismo alemão, sua plena autonomia.
A história da escolástica apresenta-se, assim, como a história da razão humana em determinado momento de sua evolução, exprimindo inicialmente a alienação, na sujeição ao dogma; em seguida, a consciência da alienação, na doutrina das duas verdades; e finalmente a negação da alienação (da negação), na ruptura definitiva entre razão e fé, e na afirmação de que o real, em sua totalidade, natureza e história, é racional.
A decadência da escolástica, a partir do século XIII, exacerbou seus caracteres formais. Desde que, com Guilherme de Ockham, as verdades da fé são consideradas inacessíveis à razão, a filosofia, que procura compreender e explicar essas verdades, converteu-se numa discussão de textos e temas que perderam vigência histórica. O ensino fez emprego abusivo do silogismo, no verbalismo das fórmulas abstratas. A complacência no debate e o dogmatismo levaram a que a palavra escolástica passasse a ter conotação pejorativa.
Referencias:

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Vida Equilibrada e Produtiva na Universidade: Onde Começar?

Carluci Ferreira dos Santos[1]

A universidade apresenta desafios e perspectivas novas a todo estudante. Ela é um mundo novo para o jovem estudante. Muitos chegam aqui ainda adolescentes. Esta breve passagem pela universidade é um momento de transição e possíveis rupturas. Muitos chegamos à universidade em crise. É a primeira vez que saímos de casa, do grupo de amigos, da comunhão da igreja local. Mal saímos da adolescência, e já fizemos uma opção acadêmica e profissional que nos afetará durante toda a vida adulta; e ainda faremos muitas outras escolhas importantes. O estudante na obra evangelizadora e discipuladora estudantil terá ainda mais tensões e desafios. Como desenvolver uma vida equilibrada e produtiva neste contexto? Pôr onde começar? Neste artigo proponho que uma vida produtiva e equilibrada se constrói a partir de um pensar com a mente de Cristo em todas as esferas da vida; e se estabelece em relacionamentos vitais e sadios. Combate-se o bom combate de Cristo firmados na fé e com boa consciência, do contrário, naufragamos (1 Tim. 4:18,19). Nossa produtividade e equilíbrio começam com o desenvolvimento de uma cosmovisão bíblica. É necessário aprender a pensar a vida, nosso relacionamento e nossa atuação na experiência universitária com a mente de Cristo. O Peregrino nos ensina que em qualquer lugar onde nos encontramos podemos erguer um altar a Deus através de nosso pensamento (O Peregrino Russo, SP: Edições Paulinas, 1986, p.95.)
A relação do estudante com a universidade e sua formação profissionalA universidade tem uma cosmovisão própria. Sou capaz de discerni-la? Como posso discernir a influência da universidade na minha formação? Sou ensinado a prestar contas a alguém? No trabalho acadêmico nem sempre se tem a consciência de que somos criaturas finitas vivendo em um universo onde há um Deus Soberano. Qual a base moral do ensino que recebemos ali? Entre os elementos que predominam no campus podemos destacar, a competitividade (desde a preparação para o vestibular), e nos vários concursos que se seguem. O saber é centrado na busca da autonomia do ser humano; é uma visão puramente antropocêntrica onde cada um é o seu próprio ‘deus’; e define sua própria ética e moralidade. Terceiro, há ainda um distanciamento entre o saber acadêmico e as necessidades primárias da sociedade. Pôr exemplo, em se fazendo uma especialização, priorizo o bem maior ou procuro uma oportunidade de ter lucros maiores? Como a universidade participa e se preocupa com as questões sociais sejam locais, ou de âmbito nacional? Quais são seus projetos? Questione-a. Proponha novos caminhos. Participe. Infelizmente, a busca do prazer e da folia caracteriza a filosofia de atuação de DA’s, e suas manifestações de prazer irresponsável, improdutivo e inconseqüente. Alguns estudantes me perguntam se deve ou não ir a um barzinho ou a uma festa na casa de colegas de faculdade. O estar ali não consiste um problema em si, mas se estou ou não testemunhando de minha fé em Cristo. A sabedoria dos pais do deserto nos ensina que o espírito humano não se contenta com o que satisfaz os sentidos. Quanto menos ele consegue alcançar a felicidade, mais a persegue. Na mobilização estudantil do campus raramente há produção artística, acadêmica ou qualquer acréscimo à vida. O processo político é mais caracterizado pela manipulação do que pelos valores democráticos sobre os quais discursam. Qual a nossa proposta para o campus? Para a comunidade estudantil?
É preciso encarar a universidade como uma oportunidade de treinamento para o serviço no Reino de Deus; definir e pautar a carreira profissional a partir de uma ética cristã. Este serviço cristão pode tomar diversas formas e não significa necessariamente que você se filiará a uma missão local ou transcultural. É antes de tudo uma forma de ver a vida em Cristo, onde Deus o colocar, seja em uma instituição pública (municipal, estadual, federal), privada ou de natureza eclesiástica; ou trabalhando como autônomo. Uma cosmovisão bíblica implica em quebrar a dicotomia entre o ‘sagrado’ e o ‘secular’. Servimos a Deus não somente na adoração nos momentos de culto mas também na carreira de docente e na escolha de uma linha pedagógica, na escolha de uma especialização médica, nos cálculos da engenharia, nas definições de políticas econômicas, nas decisões nos tribunais ou no fórum político.
Nós temos a mente de Cristo (1 Cor. 2:16); e, portanto, somos exortados à não conformação com este mundo pela transformação de nossa mente (Rom. 12:2). Henri Nowen, um sacerdote e teólogo contemporâneo, nos alerta que sem uma sólida mente cristã, profissionais cristãos seremos pseudoprofissionais, e incapazes de discernir a ação de Deus na nossa história no seu dia a dia. O dia a dia na universidade nos sensibiliza ou não aceitar o caminho do poder, da arrogância, da auto-suficiência ou o caminho da cruz ? (Henri J. M. Nowen, O Perfil do Líder Cristão no Século XXI. Americana: Worship Produções, p.70).
Os servos de Deus vivem neste mundo mas não são deste mundo; este mundo é o mundo da Criação de Deus. Reconhecemos que Ele é Senhor Soberano sobre tudo e sobre todos os seres vivos; Ele sustenta o universo, seja na dimensão do macro-cosmos ou do microcosmos. Ele é a fonte de toda vida. Qual minha motivação para estar na universidade? Como o meu projeto de vida está em sintonia com o projeto de Deus para sua Criação e seu plano para redimi-la? Como minhas decisões perpetuam as obras das trevas ou são como luz que dissipa as trevas? Se estou na universidade, com que motivação cheguei até aqui? Com que ambições vou encarar o mercado de trabalho?
O testemunho cristão no campusAo chegar ao campus esteja em oração. Esteja certo que Deus o levou ali. Use sua criatividade e descubra outros companheiros cristãos. Organize-se. Seja líder! Vamos inundar a universidade com células de oração, grupos de estudos bíblicos, as palestras de cunho pré-evangelístico, os programas de recepção de calouros, campanhas de evangelização, grupos de teatro, música, projetos sociais e comunitários, cultos de formatura. Tenho visto que muitas pessoas, incluindo familiares, amigos e parentes de formandos ouviram o evangelho pela primeira em um culto de formatura organizado pôr algum colega cristão entre os formandos. Busque o apoio de outros que já estão engajados ou que já passaram pôr este ministério. Não seja indiferente às iniciativas estudantis no seu campus. A nossa vida só tem sentido quando a vivemos em obediência a Cristo. Na universidade estamos preparando para melhor serví-lo em missão. Seja presente de uma forma criativa, equilibrada, mas antes de tudo, seja um líder, pescador de homens! Leia, estude, avalie e descubra a melhor forma de agir e influenciar seus colegas e professores. O Espírito Santo irá guiá-lo quando você pedir-lhe socorro!

A relação do estudante com sua família
Certamente, sair de casa para estudar é uma experiência rica para todo estudante. Na verdade, a grande maioria ainda é financeiramente dependente da família. Entretanto, como parte natural de meu amadurecimento eu passo a ver a família de uma forma diferente, sua alegria e sua dor. Eu começo a ganhar perspectiva na vida familiar. Mas a convivência no ambiente da universidade pode afetar positiva ou negativamente minha forma de ver a família. Como me relaciono com minha família a partir de minha vida na universidade? Como passo a ver meus pais, meus irmãos? A vida na universidade está me aproximando deles de uma forma madura, sadia e carinhosa ou me distancia dos valores básicos da família? É importante reconhecer nossa individualidade sem desonrar nossos pais e irmãos. Pais cristãos sadios (pareceria que ser cristão é necessariamente ser sadio) nos afirmarão e nos ajudarão a descobrir os propósitos de Deus para nossas vidas. Eles são os nossos primeiros amigos; são aqueles que mais investiram em nossas vidas. Não podemos ignorá-los ao tomar nossas decisões mais importantes. Henri Nowen fala também sobre a árdua tarefa do líder cristão do próximo século de responder aos conflitos familiares (Nowen, p.71). É preciso dizer não ao fatalismo, à derrota, à casualidade ou eventualidade que querem nos dizer que a família está falida! Não! A família, a igreja, o círculo de amigos é o lugar para aprender e desenvolver a intimidade libertadora de Jesus.

A relação do estudante com a igreja local
É fundamental estar ligado a uma igreja evangélica local. A igreja local é parte do grande corpo de Cristo, invisível, indivisível! É tempo de ganhar perspectiva na cultura religiosa de minha igreja local e aprender a servi-la e não procurá-la para servir-se de suas preferências, suas cores, sua teologia e seus ritmos. Nossa presença na igreja local deve ser marcada pela atitude de serviço e não crítica desencarnada. “A maior parte da liderança cristã é exercida pôr pessoas que não sabem desenvolver relacionamentos sadios e íntimos, e pôr isso fazem opção pelo poder e pelo domínio” (Nowen, p. 64) Como estou planejando servir ao Senhor na igreja local? Como estou me relacionando com ela? Qual é a minha atitude: arrogância ou serviço? Declaro autonomia e auto-suficiência ou com genuína humildade compartilho o alegre sentimento de ser corpo?

O cuidado com a vida pessoal: relacionando-se consigo mesmo
Para concluir, é fundamental que tenhamos objetivos claros nos vários aspectos de nossa vida no campus: para a vida acadêmica e social, para o grupo bíblico, a vida familiar, bem como a vida na igreja. E pôr último, cuida de ti mesmo e da sã doutrina (1 Tim. 4:16). Richard Foster, no clássico “Celebração da Disciplina: O Caminho do Crescimento Espiritual” (SP: Editoria Vida, 1995) propõe a disciplina espiritual como porta para nosso livramento. Esta é outra leitura indispensável! Pratica-se a espiritualidade no cultivo de amizades e lazer sadios, na prática da oração e do estudo da palavra, na leitura e reflexão teológica bem como no cultivo das virtudes cristãs. Disciplina espiritual é ainda manter a palavra quando empenhá-la em algo, ser honesto no cumprimento das tarefas; ter uma atitude correta para com o meu corpo e minha sexualidade; ter uma atitude crítica diante de minha cultura e saber identificar nela seja a beleza da graça comum ou a inimizade e rebeldia contra Deus.
Orai sem cessar (1 Tes. 5:17). A oração deve ser presente em tudo o que fizermos. Em O Peregrino Russo, O professor perguntou ao monge se o trabalho acadêmico, profissional é compatível com a vida de oração. É comum pensar que a vida de oração é mais aconselhada para aqueles que tem condições exteriores favoráveis, que se afastam dos negócios, das preocupações e inevitáveis distrações do dia a dia. O monge assim lhe respondeu,

“suponhamos que um monarca severo e exigente vos ordene escrever um tratado a respeito de um assunto abstrato, em sua presença, diante de seu trono. Embora possais estar todo entregue a vosso trabalho, a presença do rei, que exerce poderio sobre vós e que tem a vossa vida entre as mãos, não vos deixará esquecer um só instante que pensais, refletis e escreveis não na solidão, mas num local que exige de vós uma atenção e um respeito particulares. Essa consciência da proximidade do rei exprime muito claramente ser possível aplicar-se à oração interior permanente, até mesmo durante um trabalho intelectual.” (O Peregrino Russo, p.97.)

A minha prática cristã, seja através do hábito de leitura bíblica, oração, freqüência à igreja, comunhão com os irmãos tem trazido crescimento e maior comunhão com Deus? Sou mais semelhante a Cristo? Tenho prazer em desviar-me do mal?

Devemos nos perguntar quais são algumas áreas de nossa vida onde devemos priorizar algo para encontrar um equilíbrio interior e exterior. Uma pergunta mais fundamental, entretanto, é “Onde está o meu coração?” Certamente, onde estiver o meu tesouro, aí também estará o meu coração (Mat. 6:21). Deus nos deu a mente de Cristo; Ele nos deu também o dom do Espírito Santo. Que outros tesouros vamos buscar? Ouçamos a contínua voz do Senhor que nos pede, “Filho meu, dá-me o teu coração!” Ele nos escolheu para despertarmos os outros da morte para a vida!

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[1] obreiro da Aliança Bíblica Universitária do Brasil.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Metamorfose Ambulante

Trabalho avaliativo

1. Produzam um pequeno texto interpretativo, opinando sobre a seguinte questão: Raul Seixas está defendendo o ceticismo? Optem entre "sim", "não", "em termos" e fundamentem sua escolha argumentativamente.

2. Reúnam-se em grupos de acordo com a resposta dada, e eleja a que consideram melhor. A letra da musica e as melhores respostas serão colocadas aqui no filemdia.

Metamorfose Ambulante
Raul Seixas
Composição: Paulo Coelho / Raul Seixas

Ah Ah Ah!
Ah Ah Ah!
Ah Ah Ah!...Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo...
Eu quero dizer
Agora o oposto
Do que eu disse antes
Eu prefiro serEssa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo...
Sobre o que é o amorS
obre o que eu
Nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator...
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo...
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu
Nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amorLhe tenho horror
Lhe faço amorEu sou um ator...
Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu
Lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo...
Do que ter aquela velha,velha
Velha, velha, velha
Opinião formada sobre tudo...(3x)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Viver com equilíbrio (autoria desconhecida)

Em uma conferência numa universidade americana, Brian Dyson, ex- presidente da Coca-cola, falou sobre a relação entre o trabalho e outros compromissos da vida.
disse ele: "imaginem a vida como um jogo, no qual vocês fazem malabarismo com 5 bolas que lançam ao ar. essas bolas são: o trabalho, a família, a saúde, os amigos e o espírito. o trabalho é uma bola de borracha. se cair, bate no chão e pula para cima. mas as 4 outras são de vidro. se caírem no chão, quebrarão e ficarão permanentemente danificadas." entendam isso e busquem o equilíbrio na vida. como?
1) não diminuam seu próprio valor, comparando-se com outras pessoas. somos todos diferentes. cada um de nós é um ser especial. não fixem seus objetivos com base no que os outros acham importante. só vocês estão em condições de escolher o que é melhor para vocês próprios;
2) dêem valor e respeitem as coisas mais queridas aos seus corações. apeguem-se a elas como à própria vida. sem elas, a vida carece de sentido. não deixem que a vida escorra entre os dedos por viverem no passado ou no futuro. se viverem um dia de cada vez, viverão todos os dias de suas vidas;
3) não desistam quando ainda são capazes de um esforço a mais. nada termina até o momento em que se deixa de tentar. não temam admitir que não são perfeitos;
4) não temam enfrentar riscos. É correndo riscos que aprendemos a ser valentes;
5) não excluam o amor de suas vidas, dizendo que não se pode encontrá-lo. a melhor forma de receber amor é dá-lo. a forma mais rápida de ficar sem amor é apegar-se demasiado a si próprio. a melhor forma de manter o amor é dar-lhe asas;
6) não corram tanto pela vida a ponto de esquecerem onde estiveram e para onde vão;
7) não tenham medo de aprender. o conhecimento é leve. É um tesouro que se carrega facilmente;
8) não usem imprudentemente o tempo ou as palavras. não se podem recuperar;
9) a vida não é uma corrida, mas sim uma viagem que deve ser desfrutada a cada passo;
10) lembre-se: ontem é história, amanhã é mistério e hoje é uma dádiva. por isso se chama "presente". vivam o presente com muita energia!"

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Senso Comum e Conhecimento Científico

Vimos que o mito e a filosofia foram formas que o homem encontrou para enfocar, compreender e conhecer sua realidade. Isso ocorria à medida que ele procurava suprir suas necessidades, pois não há conhecimento que se realize fora da relação do homem com o mundo.
Sendo assim, qualquer tipo de conhecimento que o homem possui não é neutro ou desinteressado, mas construído sob uma perspectiva social, política e cultural e, portanto, histórica, ou seja, à medida que o homem se relaciona com os outros homens, ele adquire e constrói entendimentos sobre a realidade que o cerca. Neste processo de construção, o conhecimento que é produto de uma prática que se faz social e historicamente situada pode ser espontâneo ou de senso comum, cientifico e também filosófico.

Senso Comum

No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e atuar sobre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dá azar; se quebrarem um espelho, sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “embatuma”, sabem também que a determinados pratos, feitos em banho-maria, devem acrescentar uma gotas de vinagre ou de limão, para que a vasilha de alumínio não fique escura. Como aprenderam essas informações? Elas foram sendo passadas de geração a geração. Elas não só foram assimiladas, mas também transformadas, contribuindo assim para a compreensão da realidade.
Assim, se o conhecimento é produto de uma pratica que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento social, para o trabalho, para os fenômenos da natureza, etc. passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experimentamos. Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais questionamos: tornamo-nos “conformistas de algum conformismo”.
São inúmeros os exemplos presentes na vida social, construídos pelo “ouvi dizer”, que formam uma visão de mundo fragmentada e assistemática. Mesmo assim, é uma forma usada pelo homem para tentar resolver seus problemas da vida cotidiana. Isso tudo é denominado de senso comum ou conhecimento espontâneo.
Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência cotidiana, sem se preocupar com o rigor que a experiência cientifica exige e sem questionar os problemas colocados justamente pelo cotidiano. Portanto, é também um saber ingênuo, uma vez que não possui uma postura crítica.
“Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com método, com critica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com esforço, usando um método, uma critica mais pensada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos”.
Lara, Tiago Adão. Caminhos da razão no ocidente: a filosofia ocidental, do renascimento aos nossos dias. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
Porém, é importante destacar que o senso comum é uma forma válida de conhecimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar suas necessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos dos psicólogos e pedagogos são mais bem educados.
O senso comum é ainda subjetivo ao permitir a expressão de sentimentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta. Por exemplo:
a. se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor. Neste caso, a antipatia por esta determinada pessoa nos impede de reconhecer a sua capacidade;
b. Os hindus consideram a vaca um animal sagrado, enquanto nós, ocidentais, concebemos este animal apenas como um fornecedor de carne, leite, etc. Por essa razão os consideramos ignorantes e ridículos,pois tendemos a julgar os povos que possuem uma cultura diferente da nossa a partir do nosso entendimento valorativo.
Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção critica e coerente, e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como a ciência e a filosofia.

Conhecimento científico


Na unidade anterior, estudamos que a preocupação dos pensadores da Antiguidade Grega era buscar, por meio do uso da razão, a superação do mito ou do saber comum. O avanço na produção do conhecimento conseguido por esses pensadores foi estabelecer vinculo entre ciência e filosofia, que perdurou até o inicio da Idade Moderna. A partir daí, as relações dos homens tornaram-se mais complexas, bem como toda a forma de produzir sua sobrevivência. Gradativamente, houve um avanço técnico e cientifico, como a utilização da pólvora, a invenção da imprensa, a Física de Newton, a Astronomia de Galileu, etc.
Foi no inicio do século XVII, quando o mundo europeu passava por profundas transformações, que o homem se tornou o centro da natureza (antropocentrismo). Acompanhando o movimento histórico, ele mudou toda a estrutura do pensamento e rompeu com as concepções de Aristóteles, ainda vigentes e defendidas pela igreja, segundo as quais tudo era hierarquizado e imóvel, desde as instituições até o planeta terra. O homem passou então, a ver a natureza como objeto de sua ação e de seu conhecimento, podendo nela interferir. Portanto, podia formular hipóteses e experimentá-las para verificar a sua veracidade, superando assim as explicações metafísicas e teológicas que até então predominavam. O mundo imóvel foi substituído por um universo aberto e infinito, ligado a uma unidade de leis. Era o nascimento da ciência enquanto um objeto específico de investigação, com um método próprio para controle de produção do conhecimento. Assim sendo, ciência e filosofia se separam.
Portanto, podemos afirmar que o conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade, pois tem apenas trezentos anos. Ele transformou-se numa pratica constante, procurando afastar crenças supersticiosas e ignorâncias, por meio de métodos rigorosos, para produzir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo que garanta prever acontecimentos e agir de forma mais segura.
Sendo assim o que diferencia o senso comum do conhecimento cientifico é o rigor. Enquanto o senso comum é acrítico, fragmentado, preso a preconceitos e a tradições conservadoras, a ciência preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que produzam teorias que revelem a verdade sobre a realidade, uma vez que a ciência produz o conhecimento a partir da razão.
“Assim, são tarefas básicas para se construir ciência:
definir os termos com precisão, para não deixar margem à ambigüidade: cada conceito deve ter um conteúdo especifico e delimitado; não pode variar durante a analise(...);
descrever e explicar com transparência, não incorrendo em complicações, ou seja, em linguagem hermética, dura, ininteligível(...);
distinguir com rigor facetas diversas, não emaranhar termos, clarear suposições possíveis, fugir à mistura de planos da realidade, não cair em confusão(...);
procurar classificações nítidas, bem sistemáticas de tal sorte que o objeto apareça recortado sem perder muito de sua riqueza;
impor certa ordem no tratamento do tema, de tal modo que seja claro o começo ou o ponto de partida(...)”

Demo, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1995. p. 35.

Desta forma, o cientista, para realizar uma pesquisa e torná-la cientifica, deve seguir determinados passos. Em primeiro lugar, o pesquisador deve estar motivado a resolver uma determinada situação-problema que, normalmente, é seguida por algumas hipóteses. Usando sua criatividade, o pesquisador deve observar os fatos, coletar os dados e então testar suas hipóteses que poderão se transformar em leis e posteriormente em teorias que possam explicar e prever fenômenos.
Porem é fundamental registrar que a ciência não é somente acumulação de verdades prontas e acabadas. Nesse caso, estaríamos refletindo sobre cientificismo e não ciência, mas tê-la como um campo sempre aberto às novas concepções e contestações sem perder de vista os dados, o rigor e a coerência e aceitando, inclusive, no dizer de Karl Popper, que “o que prova que uma teoria é cientifica é o fato de ela ser falível e aceitar ser refutada”.
A ciência é, e continua a ser, uma aventura. A verdade da ciência não está unicamente na capitalização das verdades adquiridas, na verificação das teorias conhecidas, mas no caráter aberto da aventura que permite, melhor dizendo, que hoje exige a contestação das suas próprias estruturas de pensamento. Bronovski dizia que o conceito da ciência não é nem absoluto nem eterno. Talvez estejamos num momento critico em que o próprio conceito de ciência se esteja modificando.

Morin, Edgar. Ciência com Consciência. Rio de Janeio: Bertrhand Brasil, 1996. p.16

Atividades

  1. Explique a diferença entre senso comum e conhecimento científico.
  2. Qual a importância do senso comum e do conhecimento científico para a vida do homem?
  3. Pergunte a pelo menos, dois profissionais que trabalham com produção cientifica qual o seu conceito de ciência. Explique o significado de cada conceito a partir das reflexões realizadas em sala de aula.

Conhecimento -O tema "conhecimento" inclui, mas não está limitado, as descrições, hipóteses, conceitos, teorias, princípios e procedimentos que são ou úteis ou verdadeiros. O estudo do conhecimento é a epistemologia. Hoje existem vários conceitos para esta palavra e é sabido por todos que conhecimento é aquilo que se conhece de algo ou alguém. Isso em um conceito menos específico.
Podemos conceituar conhecimento da seguinte maneira: conhecimento é aquilo que se admite a partir da captação sensitiva sendo assim acumulável a mente humana. Ou seja, é aquilo que o homem absorve de alguma maneira, através de informações que de alguma forma lhe são apresentadas, para um determinado fim ou não. O conhecimento distingue-se da mera informaçao porque está associado a uma intencionalidade. Tanto o conhecimento como a informação consistem de declarações verdadeiras, mas o conhecimento pode ser considerado informação com um propósito
A definição clássica de conhecimento, originada em Platão diz que ele consiste de crença verdadeira e justificada.

Aristoteles divide o conhecimento em três áreas:Cientifica. Pratica e Tecnica.
Além dos conceitos aristotélico e platônico, o conhecimento pode ser classificado em uma série de designações/categorias:

Conhecimento Sensorial: É o conhecimento comum entre seres humanos e animais. Obtido a partir de nossas experiências sensitivas e fisiológicas (tato, visão, olfato, audição e paladar).
Conhecimento Intelectual: Esta categoria é exclusiva ao ser humano; trata-se de um raciocínio mais elaborado do que a mera comunicação entre corpo e ambiente. Aqui já pressupõe-se um pensamento, uma lógica.
Conhecimento Empírico/Vulgar/Popular: É a forma de conhecimento do tradicional (hereditário), da cultura, do senso comum, sem compromisso com uma apuração ou análise metodológica. Não pressupõe reflexão, é uma forma de apreensão passiva, acrítica e que, além de subjetiva, é superficial.


Conhecimento Científico: Preza pela apuração e constatação. Busca por leis e sistemas, no intuito de explicar de modo racional aquilo que se está observando. Não se contenta com explicações sem provas concretas; seus alicerces estão na metodologia e na racionalidade. Análises são fundamentais no processo de construção e síntese que o permeia, isso, aliado às suas demais características, faz do conhecimento científico quase uma antítese do empírico.

Conhecimento Filosófico: Mais ligado à construção de idéias e conceitos. Busca as verdades do mundo por meio da indagação e do debate; do filosofar. Portanto, de certo modo assemelha-se ao conhecimento científico - por valer-se de uma metodologia experimental -, mas dele distancia-se por tratar de questões imensuráveis, metafísicas. A partir da razão do homem, o conhecimento filosófico prioriza seu olhar sobre a condição humana.

Conhecimento Teológico: Conhecimento adquirido a partir da fé teológica, é fruto da revelação da divindade. A finalidade do Teólogo é provar a existência de Deus e que os textos Bíblicos foram escritos mediante inspiração Divina, devendo por isso ser realmente aceitos como verdades absolutas e incontestáveis. A fé não é cega baseia-se em experiências espirituais, históricas, arqueológicas e coletivas que lhes dá sustentação.

Conhecimento Intuitivo: Inato ao ser humano, o conhecimento intuitivo diz respeito à subjetividade. Às nossas percepções do mundo exterior e à racionalidade humana. Manifesta-se de maneira concreta quando, por exemplo, tem-se uma *epifania.

Leitura Complementar

Texto 1. Conhecimento cientifico para Auguste Comte

Pra Comte o conhecimento cientifico é baseado na observação dos fatos e nas relações entre fatos que são estabelecidos pelo raciocínio. Estas relações excluem tentativas de descobrir a origem, ou uma causa subjacente aos fenômenos, e são, na verdade, a descrição das leis que os regem. Comte afirma: Nossas pesquisas positivas devem essencialmente reduzir-se, em todos os gêneros, à apreciação sistemática daquilo que é, renunciando a descobrir sua primeira origem e seu destino final”.(...) (Discurso sobre o espírito positivo, 1º. Parte. III)
O Conhecimento cientifico positivo, que estabelece as leis que regem os fenômenos de forma refletir o modo como tais leis operam na natureza, tem para Comte ainda, duas características: é um conhecimento sempre certo, não se admitindo conjeturas, e é um conhecimento que sempre tem algum grau de precisão(...). Assim, Comte reforça a noção de que o conhecimento cientifico é um conhecimento que não admite duvidas e indeterminações e desvincula-se de todo conhecimento especulativo.
“Se, conforme a explicação precedente, as diversas ciências devem necessariamente apresentar uma precisão muito desigual, não resulta daí, de modo algum, sua certeza. Cada uma pode oferece resultados tão certos como qualquer outra, desde que saiba encerrar suas conclusões no grau de precisão que os fenômenos correspondentes comportam, condição nem sempre fácil de cumprir. Numa ciência qualquer, tudo o que é simplesmente conjectural é apenas mais ou menos provável, não está aí seu domínio essencial: tudo o que é positivo, isto é, fundado em fatos bem constatados, é certo – não há distinção a esse respeito. (Curso de Filosofia Positiva 2º. Lição XI)

Leia atentamente o texto e responda

A partir das discussões realizadas em sala e dos elementos apresentados no texto, explique a seguinte afirmação: O conhecimento científico é sempre certo e não admite duvidas.

Você concorda a com a afirmação acima? Explique o seu posicionamento.


Texto 2 . Ciência e Vida

O termo ciência vem do latim, scientia de sciens, conhecimento, sabedoria. É um corpo de doutrina organizado metodicamente, que constitui uma área do saber e é relativo a determinado objeto.
O que caracteriza cada ciência é seu objeto formal, ou seja, a coisa observada, porem o desdobramento dos objetos do saber cientifico caminhou progressivamente para a especialização das ciências (ato que marcou sobremaneira o século XIX com o advento da técnica e da industrialização). Isto culminaria na perda da visão totalitária do ser e na sua conseqüente fragmentação.
Para Morin(1982 pp. 25-33), o saber cientifico necessita de objetividade, na busca da verdade, e também deve possuir método próprio, responsável pelo cumprimento de um plano para observação e a verificação de qualquer matéria. Entretanto esse caráter objetivo da ciência, que corresponde aos dados variáveis coletados, traz consigo uma gama irrestrita de pensamentos, teorias e paradigmas que nos remete para a reflexão bioantropológica do conhecimento, bem como para a reflexão das teorias nos aspectos culturais, sociais e históricos. Não se pode perder de vista que o cientista investiga as ciências é um ser humano falível e é preciso que as ciências se questionem acerca de suas estruturas ideológicas.
Nesse contexto, a questão “o que é ciência?” ainda não conta com uma resposta cientifica, considerando que todas as ciências, incluindo as físicas e biológicas, são também sociais. Portanto, têm origem, enraizamento e componente biofísico, o que seu campo de estudo procura renegar, na tentativa de expressar, por meio de sua especialização, a estrutura do pensamento linear do conhecimento cientifico, ou seja, a ciência, com suas teorias e metodologias “salvadoras”, não dispõe de habilidade e refletir-se para o conhecimento.
Dessa forma, não é cientifico tentar definir as fronteiras da ciência. Não é cientifico porque não é seguro e qualquer pretensão em fazê-lo tornar-se-ia irresponsável.
Petraglia, Isabel Cristina; Edgar Morin: a educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis: Vozes 1995, p. 42-44.

Leia Atentamente o texto e responda

Considerando as reflexões sobre a primeira leitura complementar e os elementos contidos em Ciência e Vida, explique por que a questão “o que é ciência” ainda não conta com urma resposta cientifica.

Bibliografia: Apostila Positivo